sábado, 19 de dezembro de 2015

"REFLEXÃO"




Como se chama aquele deus
que nasceu, viveu e morreu
dentro do seu próprio teatro?

Orgulho
murmura uma voz curvada
que se esconde num canto do peito

E o tempo passa
inútil querer ser mais que água
tudo é rio


Soares Teixeira – 19-12-2015
(© todos os direitos reservados)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

"NUM SECRETO TERRAÇO" - Soares Teixeira




Num secreto terraço
feito de um mármore de olhar e asa
e que se estende a um antes e depois
deste livro onde somos escritos
caminhar
lentamente
ser a espera, ser a porta
e ser o choro que escorre da chama
e ser também
veludo e aço
e estátua que emerge de chão nocturno
e sol a brilhar nas colunas dos séculos
e perguntar a um astro
que anda perdido no peito:
sou um copo pensativo
a rodar nos dedos do vento?
sou o corrimão de bronze cinzelado
de alguém que vive a máscara
do ser e do não ser?
sou a água de que vigília? De que sono?

Num secreto terraço
sabermo-nos
um além vitória e além derrota
um além certeza e além erro
um além e aquém  luz
além momento

Num secreto terraço
sabermo-nos
pálpebra nunca satisfeita
com o aproximar das coisas
e escapar
- fugir

Fugir
dentro de um poema
ser astronauta
ver outros mundos
descobrir-lhes as manhãs
e nelas  recomeçar



Soares Teixeira – 18-12-2015
(© todos os direitos reservados)

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

"O TEMPO VIRÁ" - Soares Teixeira




Algum dia
num astro
vivi
o ser peixe
a nadar dentro de mim
e ser pássaro
a voar para outro fim

depois acordei
ou adormeci
não sei
e vim dar comigo
nesta sede de azul

o tempo virá
em que regressarei
à água que serpenteia na luz
e então sonharei
com o carro solar
que agora me conduz


Soares Teixeira – 08-10-2015
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

"A FOTOGRAFIA" - Soares Teixeira




Eu ia num navio
à popa
e do convés olhava
como se voasse de dentro para fora de mim
de dentro para fora…
de fora para dentro…
em círculos
lentamente
sem qualquer pressa no prazer ou no ser
do meu lado esquerdo as terras do adeus
do meu lado direito as terras do nunca mais
é também assim o navio da vida
assim mesmo…
nenhuma pedra se repete
nenhum vento se repete
porque a pedra de hoje é o que eu sou ao vê-la hoje
- amanhã é outra porque eu serei outro
porque o vento de hoje é o que eu sou ao senti-lo hoje
- amanhã é outro porque eu não serei o mesmo
O céu crescia-me no peito de pássaro
no mar um rasto de espuma e outro de sol
Tirei uma fotografia à alma do instante
revejo-a agora com um sorriso marinheiro
não está lá, mas está
sim está!
vejo-o nitidamente e lembro-me de o ter sentido
tanto e tanto no meu convés de pestanas e abandono
lá está ele
esse rasto de saudade
a nascer do eu ser navio com casco de emoção
navio sim
imenso
como um sonho de Além
como um murmúrio a deslizar
dentro de um sopro de eternidade


Soares Teixeira – 07-10-2015
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 6 de outubro de 2015

"MAR" - Soares Teixeira




Sinto-me mar como tu
oh mar
deslumbrado
com o pulsar de tanta distância
com os olhos de tantas praias
com os ombros de tantas montanhas
mar
do primeiro ao último momento
deste gesto
com que me prolongo
para lá dos astros que trago nas veias

mar
ânsia de exílio na viagem
som de origem
som de sino do ser
silêncio apenas
segurando entre as sílabas
uma rosa de contemplação


Soares Teixeira – 06-10-2015
(© todos os direitos reservados)