domingo, 3 de maio de 2015

"RELVA" - Soares Teixeira





Sinto um súbito querer
de em mim acordar a relva
para tornar mais fáceis
os passos dos instantes

porquê? ilusão? fantasia?
talvez a anelante inquietação
dos dias
ou quem sabe
num outro que fui ou serei
o verde de um desejo vagabundo
que um mistério maior
faz pensamento de agora

oiço os pássaros
cantam num eu completo
o céu é azul
desejo-me sossego no mundo



Soares Teixeira – 03-05-2015
(© todos os direitos reservados)

sexta-feira, 1 de maio de 2015

"SEGREDO" - Soares Teixeira





Curioso
sinto que no voo das gaivotas
há uma intermitência de pausa
a revelar o segredo das suas asas

parece que as movimentam
com o único propósito
de ficarem imóveis no ar
a serem outras noutra realidade

é nessas pausas
que vão surgindo como a luz de um farol
é nessas pausas
que mais forte batem as minhas asas
é nessas pausas
que mais intenso é o esquecimento
de tudo o que não é um sol de mar e céu
é nessas pausas
que sinto a minha desconhecida existência
sinto-a elevar-me
à fertilidade do desconhecido
onde finalmente consigo ser
a verdadeira medida da liberdade



Soares Teixeira – 01-05-2015
(© todos os direitos reservados)

quinta-feira, 30 de abril de 2015

"INTIMIDADE" - Soares Teixeira





Mar
e habitar o instante sem nome
do poema a acontecer
nos lábios líquidos das ondas

céu
e beber o azul da flor do horizonte
numa demora da alma que se ilumina
até ao fundo do mistério

navegar
e ser silêncio segredado
à íntima vastidão dos espaços
que se abrem à sede das pálpebras



Soares Teixeira – 30-04-2015
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 29 de abril de 2015

"OFERENDA" - Soares Teixeira





O sol é um fruto
e eu
estendido no convés do veleiro
braços entregues
às sílabas do descanso
pernas abertas em compasso
de geómetra de si mesmo
sou oferenda
que se entrega
ao azul de luz em grito

nenhuma palavra em mim
apenas contemplo
e sou templo
consagrado à grande árvore
com seiva de infinito

sobre as ondas
vou
como vértice que ondula
por bagagem
levo o olhar
e o navio
que é íntimo da viagem



Soares Teixeira – 29-04-2015
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 28 de abril de 2015

"À PROA" - Soares Teixeira



Navio "Santa Maria Manuela". "Tal Ship Races" Cádis/Lisboa - 2012)


Gosto do poema
que se deixa acontecer
nas asas
de quem com ele voa

o poema sem abóbada
onde cabem as ondas do mar
as flores sem idade da lua cheia
ou o murmúrio dos rios siderais

de braços abertos
o poema e eu
a brincar às idas e aos regressos
os dois à proa

deste veleiro que é viver



Soares Teixeira – 28-02-2015
(© todos os direitos reservados)