terça-feira, 21 de abril de 2015

"INICIA-TE" - Soares Teixeira





Guardas-me
na visão onde me acolhes

eu     
sopro
que atravessou a luz
para habitar o caminho
da palavra
com que hesitas os lábios
porquê?
assim fico imóvel
como uma coluna de ar
vamos
sai da boca
movimenta-te no sorriso
e deixa adivinhar as ancas
que queres fazer voar
inicia-te na sílaba
tu     
coragem

nós     
volúpia
infinito inaugural




Soares Teixeira – 22-04-2015
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 20 de abril de 2015

"NÓS VAMOS" - Soares Teixeira





Corpo
escreve-se com mãos
desejo
escreve-se com luz
o resto
é escrito pelo instinto

e nenhuma sombra no fogo
de vivermos no mar
a navegação do beijo

sermos vento que se demora
nas águas do nosso caminho
sermos assinatura que prolonga
na página da nossa aventura
isso sim importa
e nada mais
tudo o resto é cais
dentro da voz das amarras

que fique

nós vamos
e nenhum sono
na urgência de sermos além



Soares Teixeira – 20-04-2015
(© todos os direitos reservados)

sábado, 18 de abril de 2015

"PEQUENA BRINCADEIRA, OU TALVEZ NÃO" - Soares Teixeira





a caminho de outro caminho
desassossego outro desassossego
começo outro começo



Soares Teixeira – 18-04-2015
(© todos os direitos reservados)

sexta-feira, 17 de abril de 2015

"O AMANTE INVENTADO" - Soares Teixeira





no rasto sem destino de uma cauda de pavão
ia o olhar das ruas por ela enamoradas

caminhava como se todo o corpo fosse a ebriedade
que as luzes da noite procuravam

de todas essas luzes as mais intensas eram os desejos
de todos esses desejos o mais intenso o do amante inventado

por ele que jamais chegaria caminhava para eles
os mesmo de sempre iguais diferentes só na anatomia

não se sentia infeliz porque quando era possuída possuía
ela era a posse mas para ter esse poder tinha de se fazer desejar

pelo amante inventado
o que lhe dava o maior sustento alento para sobreviver


Soares Teixeira – 17-04-2015
(© todos os direitos reservados)

quinta-feira, 16 de abril de 2015

"GLENN GOULD" - Soares Teixeira





Enquanto escuto Glenn Gould

Habito
o som que flutua na linha do segredo
o mundo iluminado na asa do pássaro
a rosa do relâmpago
a claridade dos braços dos astros
o rio que sorri ao namoro dos unicórnios
a mão da nuvem que abotoa a sandália de uma deusa
a fragilidade líquida de um olhar de peixe
a dança dos búzios em sono ardente

que ninguém seja pergunta
por eu ser assombro a viajar dentro de mim
sei que o azul me entende
olha azul
olha como dou forma à minha profundidade
como me torno cometa
espantoso não é?
toda a minha matéria é por onde vou
e vou no sentimento de ir pelo estar assim
liberto
de tudo o que não seja o espírito dos espaços
onde um piano se faz eternidade



Soares Teixeira – 16-04-2015
(© todos os direitos reservados)