quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

"O VERBO" - Soares Teixeira





Sem cúpula para a luz extrema que somos
caminhamos na página aberta da palavra
amar
as bocas dos astros soletram o verbo
há cósmico contentamento
e a eternidade canta
dentro da festa do nosso momento

nada mais a dizer
apenas ser



Soares Teixeira – 25-02-2015
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

"SEM JUÍZO" - Soares Teixeira





Ah como é bom
lançar para bem longe
a taça da compostura
- esse tédio
e crescer
em sede de flor selvagem
e a correr
sair da moldura do ser
para enlouquecido
morder
os teus mamilos
de mel e vento
e nos espaços conquistados
ser claridade
de trigo novo
e escrever
numa parede de riso
“Para quê ter juízo?”



Soares Teixeira – 24-02-2015
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

"SOBRE A RELVA" - Soares Teixeira





Um aroma a casca de laranja
foi tudo o que sobrou
dos frutos que fomos
Respirávamo-nos
em planície de princípio
deitados no chão
sobre a relva
de peito deslumbrado
com o vértice que havíamos sido
E porque éramos imensos
a terra renascia
da nossa nudez em expansão
e os céus tornavam-se residência
de deuses assombrados
com o infinito que voava
da nossa solar satisfação


Soares Teixeira – 23-02-2015
(© todos os direitos reservados)

domingo, 22 de fevereiro de 2015

"O TAMBOR DO SEXO" - Soares Teixeira





A lâmpada e a rosa
acesas as duas
na palavra que voa
entre a folhagem dos lábios

Depois a dança dos ventres
florescentes
incandescentes
num estremecer de matéria
e caules de delírio

Pássaros no sangue
mantêm a vertigem
e ao som
do carnal instrumento
gemem-se hinos de louvor
ao puro prazer
de abrir horizontes
em crescente
amplitude de volúpia
e veemência de falésia
erguida em fantástico êxtase

tudo à volta são sílabas suspensas
aos amantes
importa apenas
o tambor do sexo



Soares Teixeira – 22-02-2015
(© todos os direitos reservados)

sábado, 21 de fevereiro de 2015

"O LIVRO" - Soares Teixeira




Guardo um livro no bolso do olhar. Às vezes, quando deixo que em mim habite a ausência dos nomes ou quero ser um destino longe da assinatura de todas as coisas, abro-o. Pode acontecer que na cauda de um grito de gaivota venham sussurradas as palavras “és meu irmão”, pode acontecer que uma nuvem me segrede “sou a tua canoa”, pode acontecer que um rio se erga sobre a minha cabeça para me observar e me diga “segue-me até aos astros”. Praias, montanhas e desertos; lanço-os dentro do peito como búzios sobre a areia de uma praia e tudo o que não sei são amuletos que coloco ao pescoço do meu silêncio. Nessas alturas começo-me numa ardósia de espaço e se me tornar árvore e dos meus ramos nascerem frutos isso não me surpreende – entrego-os aos pássaros do inominável. Sei que as galáxias não têm todo o tempo da eternidade mas às vezes deixo-me ser eterno num segundo de paz.



Soares Teixeira – 21-02-2015
(© todos os direitos reservados)