quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

"CLARIDADE" - Soares Teixeira








Luar pleno em ar de êxtase
e uma espada de sede
a vencer fantasmas de distância

o meu nome é mar
o meu gesto é de navio
o meu caminho é beber-te

claridade
anterior à asa e à pérola
claridade
anterior à flauta e ao silêncio
claridade
do suor sideral
e da seiva de infinito
claridade
no amanhã do pássaro
e na pedra entregue ao grito
claridade
a oscilar nas árvores
claridade
a inundar as bocas

desejo pleno a crescer em mel
flor de nuvem
no vulcão das veias

o meu instante és tu
puxo-te e guardo a arma no olhar
vem!
a hora é de exílio no incêndio



Soares Teixeira – 04-12-2014
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

"CONVITE" - Soares Teixeira







Olho-te

por trás da forma
está a estética do inexplorado
por trás do gesto
está a órbita da polpa
recosto-me numa almofada
que quer conhecer o meu calor
não sei em que palavras tenho a boca
nem em que argila tenho os dedos
moldo-te em música
hum…
que bom ser felino e poder voar
sabes…
tens um pijama igual ao meu
feito de desordem, sede e ar
aqui e ali o desenho de uma ilha inventada
que tal se nos despíssemos
para nos cobrirmos com o manto
de sedosa incandescência
que nos oferece aquela deusa
que caminha na praia do luar?



Soares Teixeira – 03-12-2014
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

"O DIA DA REVELAÇÃO" - Soares Teixeira








Creio
que nunca vês
as asas
nas minhas costas
quando escreves o meu nome
na forma como danças
dentro das palavras
de onde me chamas

vem
amo-te

e eu
colibri de fogo
vou
rápido
porque menos que isso
seria insuportável lentidão

mas hoje
não sei porquê
talvez
por me sentir
ânfora a derramar vinho lunar
sou lenta brasa
na intimidade dos mitos
e
touros sagrados
véus enfeitiçados
navios enamorados
rodeiam-me
envolvem-me
com coisas de mistério
e
embriagado de uma nova respiração
sou
de braços abertos
vagar
a rodar no meu eixo de desejo
hoje
em mim a revelação
hoje
próximo da chuva
que ainda não desceu do sono
asas beijam
o sorriso onde danças
de admiração



Soares Teixeira – 02-12-2014
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

"O SAXOFONE" - Soares Teixeira








O mundo
era o recanto de um bar
jazz como céu
cocktails como sol

E porque o mundo
é fecundo e nosso
aconteceu

Já não sei de que luar
eram feitas as rosas
que ascenderam
do fogo
com que seguraste
os meus lábios
com os teus
recordo-me
que um peixe
saltou
de um para outro mar
e sei
que em ti
fui beijo
em espiral de ar

Mais tarde
com o som do saxofone
ainda presença nua em nós
fomos como ele
puros
lembras-te?
puro gemido
a uma só voz



Soares Teixeira – 01-12-2014
(© todos os direitos reservados)

domingo, 30 de novembro de 2014

"CESTO DE BÚZIOS" - Soares Teixeira








Às vezes
súbitas ressonâncias acontecem
e ficam a vibrar
como ecos de sinos
a espreitar de frestas de horizonte
serão hera de recordações
a trepar pelas paredes do momento?

Por exemplo
agora

acabou de chegar a uma praia da memória
alguém em estranho silêncio
caminha lentamente sobre a água
e o seu corpo também é mar
de veias salgadas
de onde vem? para onde vai?
que vento leva ao ombro?
que luz lhe traça uma linha no rosto?
segue-o uma ave
de corpo vazio
ferida por uma seta de nada
violenta coisa nenhuma
atirada por um instante a morder os lábios
vou na ave
alcançarei aquele outro em mim?

Indiferente
tudo está de passagem
no cesto de búzios que vou sendo



Soares Teixeira – 30-11-2014
(© todos os direitos reservados)