segunda-feira, 7 de maio de 2012

domingo, 6 de maio de 2012

"LUA" - Soares Teixeira





Lua
com o rosto encostado ao teu
sou um garanhão a galope
neste abandono de mim
para ser sangue do nosso corpo
Juntos entramos pela fenda do silêncio
como duas flores a caminho do exílio
e em nós cai o pólen do infinito
Leves são os ventos onde nos roçamos
límpidas são as luzes que nos observam
lento é o orvalho do tempo
que desliza nas nossas pétalas
Lua
fio de sonho com que me visto
luxúria abençoada pelos astros
boca que me beija e me transfigura
coxas que são morada
do arado que sou
na planura do nosso segredo
Amo-te!



Soares Teixeira

quarta-feira, 2 de maio de 2012

"NATÁLIA CORREIA" - Soares Teixeira






Natália
casulo de fina filigrana
que guarda uma borboleta
com olhar de ilha pintada a sonho
iniciática   enigmática   magmática
aquática
cisne lunar na liberdade dos longes
lira de ancas de fogo e rosas
ombros de anémona estrelar
lábios libertos em palavra de ouro
cabelos de cânticos antigos
sensual   primordial   frontal
surreal
gota de orvalho na pétala do mistério
lírio em madrugada irrepetível
pressentimento de irrequieta divindade
gesto de árvore a namorar o vento
Natália
na incandescente vitória de um verso
na ternura de uma flor singela
no infinito que se faz horizonte
no horizonte que se faz infinito
Natália
em nós   por nós
o sangue dum grito

 
 
Soares Teixeira

sexta-feira, 27 de abril de 2012

"PROCURA" - Soares Teixeira






Declina o dia
Um coração de gaivota
bate
nas palpitantes pálpebras
de um marinheiro
Ao longe
dentro do casulo do horizonte
está uma borboleta
com olhos de mulher
O mar
recebe de mãos abertas
o fogo lento da saudade
O navio
procura na distância
o significado da palavra
nostalgia



Soares Teixeira

quinta-feira, 19 de abril de 2012

"INFANTE DOM HENRIQUE" - Soares Teixeira





Sozinho
na fronteira do seu próprio ser
num silêncio de promontório e mar
com pupilas de herança e futuro
Henrique
Infante
de um navio chamado Portugal
recebeu o pão azul do horizonte
o vinho da pura força
de tudo o que é incerto
e da praia do seu peito
uma imensa pálpebra abriu-se
a viagens por acontecer


Soares Teixeira

quarta-feira, 18 de abril de 2012

"DOM JOÃO II" - Soares Teixeira






Imensa torre humana
erguida para ser frontal
João
Rei
o segundo deste nome
espreitando sobre o ombro da distância
segredava ao ouvido do vento
que era seu dever dobrar o medo
e na sempre nova linha do horizonte
buscar a linha oculta
desenhada no mais além
para com ela
em letra maior
voltar a escrever
Portugal



Soares Teixeira

domingo, 11 de março de 2012

"É UM PRAZER" - Soares Teixeira



É um prazer olhar para a mansão barroca
que algumas pessoas constroem
com a sua retórica e gestos estudados
convencidas que cada instante seu
é para os outros um copo de champanhe
Dá gosto ver os vitrais das suas pupilas
mais do que bonitos mais do que serenos
mais do que confiantes mais do que falsos
Dá gosto ver o espectáculo do seu rosto
mais do que na moda mais do que actualizado
com todas as conveniências e conivências
Dá gosto
dá tanto gosto que apetece retribuir
com uma pastelaria no olhar
e um sorriso de sarcasmo que esmurre
o palácio que pretendem exibir nos maxilares



Soares Teixeira