quarta-feira, 27 de maio de 2015

"DEVANEIO" - Soares Teixeira



É bom
estar deitado na areia da praia
sem preocupações

crescer do chão
como uma rocha inventada pelo sol
e conversar com as outras rochas
olá, também foste inventada?
fui
e tu?
também
e tu?
também
e o mar?
também
e o céu?
também

depois um beijo em arco
perguntar
tudo bem?

pausa no secreto devaneio
ser
som das ondas
em labor de mistério e renda
sob um céu que  liberta transparência
e responder
sim

crescer em carne da afirmação
e do abraço nascer um outro sol



Soares Teixeira – 27-05-2015
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 26 de maio de 2015

"COMO BEBER O POEMA" - Soares Teixeira





Voar até ao fim da asa
depois cair no chão da palavra
que é céu

voar para lá do derradeiro gesto
levar água para o vazio
e nele ser ilha com olhar de navio

dar a mão à noite
 e ir devagar devagarinho
com passos de coisa nenhuma

então, numa secreta nudez de viagem
continuar a beber o poema
com lábios de sol



Soares Teixeira – 26-05-2015
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 25 de maio de 2015

"A ÚLTIMA TULE" - Soares Teixeira




(Tule como Tile na Carta Marina de Magnus)


Aqui estou
neste azul de ser gaivota
com o mar dentro do peito

venho da raiz da distância
e vou em linha de leveza
sempre início de outro lugar

e assim serei
até um dia chegar
à Última Tule



Soares Teixeira – 25-05-2015
(© todos os direitos reservados)

domingo, 24 de maio de 2015

"ESTRADA DE DAMASCO" - Soares Teixeira



(Caravançarai de Sultanhan, Turquia)


Sabes,  poema
és o sangue de quem  te escreveu
mas também o meu
porque é nas veias que te recebo
meu poema
ave que me conduz
claridade que me converte à luz

leio-te
e em ti vou
viver-te
meu poema

minha Rota da Seda
minha jornada
minha alegria por habitar outros instantes
meu corpo de horizonte
minha caravana com suas maravilhas
meu tilintar de metais na fímbria do vento
meu oásis onde bebo água fresca
meu caravançarai
minha Estrada de Damasco
meu poema



Soares Teixeira – 24-05-2015
(© todos os direitos reservados)

sexta-feira, 22 de maio de 2015

"INAUGURAIS" - Soares Teixeira





Nus
despiram o luar de todas as palavras
e fizeram o mesmo com o corpo
nudez total

deitaram-se
o silêncio nascia da noite
as ondas dormiam no mar
e eles inaugurais

amaram-se
sem que os espaços se importassem
e assim libertaram
a madrugada por acontecer



Soares Teixeira – 22-05-2015
(© todos os direitos reservados)