quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

"NOIVOS" - Soares Teixeira



                                                     (Fotografia de Francois Jacquemin)



Faziam-nos sentir
as últimas estacas
dum porto palafítico
há muito abandonado

cansados
não de si mesmos
mas de serem olhados
como sobra dos dias
resto de tudo
adiado alimento de corvos
ele e ela
estenderam os braços enrugados
até à linha do horizonte
pousaram as mãos trémulas
uma sobre a outra
e aceitando a luz do sol
juraram caminhar juntos
à descoberta
das novas acácias dos instantes

quando lhes perguntaram
a razão de se quererem unir
os tais velhos
com a certeza
de jovens pássaros
apenas responderam

porque sim


Soares Teixeira – 25-02-2013
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

BEETHOVEN - Rondo e capriccio

Piano
Evgeny Kyssin
 
 

sábado, 23 de fevereiro de 2013

"BEETHOVEN" - Soares Teixeira




O vento inclina a cabeça
para o antiquíssimo touro
que fecunda a terra

rumor de folhagem
no corpo do instante
a claridade cresce na manhã
o sol ergue os braços
de todas as coisas
libertam-se
pássaros de inquietação
de súbito um silêncio
quase violento

o homem surge
no olhar o seu ofício
caminha frontal
como uma falésia
a música nasce-lhe dos passos
o touro chama os mitos
a terra chama os homens
o sol chama os deuses
chegou aquele
a quem se tem de se prestar culto
Beethoven


Soares Teixeira – 23-02-2013
(© todos os direitos reservados)

sábado, 16 de fevereiro de 2013

"EVASÃO" - Soares Teixeira





Há momentos
em que somos crianças ininterruptas
a sorrir para o azul
para que o horizonte não morra à fome
Há momentos
em que ao rodarmos a cabeça
afastamos todas as muralhas
todas as espadas todos os lábios secos
todos os caules quebrados todo o ruído dos instantes
e descobrimos
que o lugar onde nos encontramos pode ser outro
que as coisas que nos rodeiam podem ser outras
que as pessoas que nos observam podem ser outras
ou então
podemos descobrir muito simplesmente
que estamos sós como a primeira erva de um prado
porque só nós
sentimos uma folha de oliveira a cair no ombro
porque só nós
ouvimos um grilo a cantar dentro de uma algibeira
porque só nós
vemos a fonte translúcida e o cavalo alado
Há momentos assim
efémeros e eternos
em que paramos de girar em torno do sol
e sentimos nos cabelos a desordem do universo
e na retina a silenciosa evasão de nós mesmos


Soares Teixeira – 16-02-2013
(© todos os direitos reservados)


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

VERTIGEM, Maria Teresa Horta - Soares Teixeira


VERTIGEM

MARIA TERESA HORTA



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

POEMA SOBRE A RECUSA, Maria Teresa Horta - Soares Teixeira


MARIA TERESA HORTA

POEMA SOBRE A RECUSA

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O MOSTRENGO, Fernando Pessoa - Soares Teixeira

Fernando Pessoa
O mostrengo



sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

CAMÕES DIRIGE-SE AOS SEUS CONTEMPORÂNEOS, Jorge de Sena - Soares Teixeira


JORGE DE SENA
CAMÕES DIRIGE-SE AOS SEUS CONTEMPORÂNEOS




quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

SERMÃO DE SANTO ANTÓNIO AOS PEIXES, Padre António Vieira - Soares Teixeira

PADRE ANTÓNIO VIEIRA
SERMÃO DE SANTO ANTÓNIO AOS PEIXES
(início do capítulo I)


domingo, 3 de fevereiro de 2013

NÃO POSSO ADIAR O AMOR PARA OUTRO SÉCULO, Eugénio de Andrade - Soares Teixeira

EUGÉNIO DE ANDRADE
NÃO POSSO ADIAR O AMOR PARA OUTRO SÉCULO



sábado, 2 de fevereiro de 2013

"ELES" - Soares Teixeira




Eles sorriem
mas a cidade do cinismo nasce-lhes das têmporas
Os seus lábios pronunciam palavras matinais
mas a mentira dilata-lhes as veias

Eles prometem
mas as suas promessas são lâminas
prontas para rasgar as pálpebras do pensamento
Os dedos estendem-se em gestos límpidos
mas debaixo das unhas
ondulam meticulosas farpas e muros de cimento

Eles cantam
mas o horizonte que esquartejam sai-lhes pelas narinas
Os seus gestos celebram a boda com os instantes
mas a sua silhueta festeja a falsidade

Eles mostram-se civilizados imprescindíveis e impolutos
com o dever de estar ausentes de tudo o que não seja
o chão do seu mundo novo
Mas sobre o chão profanado dos dias alheios
eles são hienas de lume que dançam
sobre florestas dizimadas

Eles dizem-se a salvação
mas são a infecção
que quer ser cura com seringa de medo

Eles estão aí
insinuantes e sórdidos
à espera da chave com que nos abrimos ao sol



Soares Teixeira
(© todos os direitos reservados)