DIA DO PIANO 2022
"DOZE ESTUDOS TRANSCENDENTAIS"
DE
FRANZ LISZT
AO PIANO: DANIIL TRIFONOV
DIA DO PIANO 2022
"DOZE ESTUDOS TRANSCENDENTAIS"
DE
FRANZ LISZT
AO PIANO: DANIIL TRIFONOV
"O VAGABUNDO DO MAR"
Sou barco de vela e remo
sou vagabundo do mar.
Não tenho escala marcada
nem hora para chegar:
é tudo conforme o vento,
tudo conforme a maré…
Muitas vezes acontece largar o rumo tomado
da praia para onde ia…
Foi o vento que virou?
foi o mar que enraiveceu
e não há porto de abrigo?
ou foi a minha vontade
de vagabundo do mar?
Sei lá.
Fosse o que fosse
não tenho rota marcada
ando ao sabor da maré.
É por isso, meus amigos,
que a tempestade da Vida
me apanhou no alto mar.
E agora
queira, ou não queira
cara alegre e braço forte:
estou no meu posto a lutar!
Se for ao fundo acabou-se.
Estas coisas acontecem
aos vagabundos do mar.
Manuel da Fonseca
Sei que em certos momentos
não gostas
de palavras vestidas de uniforme
eu também não
E o que pode ser o uniforme
numa palavra?
A própria palavra? A forma como é dita?
E o que é dizer?
Sei que, como eu, em certos momentos
gostas de ser anterior às palavras;
dizer com o sentir – apenas,
e para isso usar uma linguagem
mais duradoura que qualquer palavra
por isso
este silêncio, as mãos dadas, o olhar
- e saber que tanto assim é dito
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Soares Teixeira-13-03-2022
(© todos os direitos reservados)
ONTEM, 04-03-2022, A ORQUESTRA GULBENKIAN, DE PÉ, ANTES DO PROGRAMA ANUNCIADO, INTERPRETOU O HINO DA UCRÂNIA. O PÚBLICO ESCUTOU IGUALMENTE DE PÉ E APLAUDIU PROLONGADAMENTE. COMO FUNDO UMA IMENSA CORTINA PRETA EM SINAL DE LUTO QUE SE ABRIU APÓS A HOMENAGEM, REVELANDO O ESPLENDOROSO JARDIM. ESTIVE LÁ
Olho o mar
com memórias incrustadas no olhar
Pergunto ao mar
e sou transportado pela pergunta
Olho o mar
e o tempo deixa de o ser;
escorrega-me do ombro
como a alça de um saco
e eu fico mais leve
Pergunto ao mar
e os lábios deixam de o ser;
fazem-se pássaros
a chamar por outros pássaros
e eu deixo-me ir
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Soares Teixeira-01-03-2022
(© todos os direitos reservados)
Ficar?
Ficar é ser viela empoeirada
onde cada vez mais pó se aglomera
Não, eu não quero ficar em mim
para, no máximo, emigrar
para memórias e reflexos do que fui
Não quero ser floresta petrificada
O que eu quero
são os gritos das aves aquáticas,
são os olhares dos cavalos selvagens,
são as cores das cidades cosmopolitas,
são os cheiros do fim do mundo,
é sentir o ar carregado de mistério
Entardecer a vida
como um navio amarrado ao cais?
Olhar o céu e o mar
como mendigo de azul?
Tornar-me habitante
de ecos dos meus passos no silêncio?
Não!
Quero a minha alma sempre acesa,
pronta para o próximo romance
entre mim o horizonte
Quero a minha inquietação
em incessante procura
de astros extraviados
Quero ter gestos ousados
para tornar minha realidade
as miragens desfocadas
Neste, que sou,
não há apenas o que fui,
ou vou sendo
Neste que sou
há uma multidão que avança
e à sua passagem
levanta do chão
sonhos caídos
Neste, que sou,
não fico!
Neste, que sou,
ordeno-me a ir!
E vou!
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Soares Teixeira-27-02-2022
(© todos os direitos reservados)