Pergunto:
para quê o sentarmo-nos
numa mágoa de espaldar alto
a escutar vozes
que trespassam a têmpora e o
tempo?
para quê riscarmos os nossos
nomes
do Sol que nos abre os dias
e da Lua que nos beija cada
sorriso e cada lágrima?
para quê afundar o crânio no
peito
e afundar o peito no poço do esmorecimento?
para quê?
é verdade que nem tudo são rosas
é verdade que as rosas murcham
é verdade que as rosas morrem
no tapete vermelho da vida há
sangue, sim
há espinhos com fome de carne e
alma
mas também há
berros de jovens ovelhas e de
jovens pinheiros
frenesins musicais de pássaros e
insectos
e a antiquíssima juventude do mar
e das rochas
e a mágica cartola do vento
de onde podem sair
saltitantes coelhos coloridos
pombas perdidas de amor pelo azul
lenços em flor e a crescer em
algo maior
e vontade e luta
numa nudez pura
que pode surgir
da mais imprevisível gota de
orvalho
ou da mais íntima e inesperada
silhueta solar
Soares Teixeira – 16-10-2016
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