quarta-feira, 15 de junho de 2016

"A QUEDA" - Soares Teixeira



Sou
do pecado original
o agradecido resultado
a cair para os astros
e digo à Lua
- olha para mim, meu amor
abençoa a queda de um pecador

A minha culpa
é não olhar para trás
quando remo nas minhas feridas
e ir
sem deixar a vida
dentro de um violino abandonado

Estou no mundo
e fiz contrato com o horizonte
eu dou-lhe a nudez do meu espanto
ele paga-me com maçãs
que mordo e como
sofregamente
em cada pergunta que faço
em cada onda que me escuta
em cada pássaro que me leva

Que me importa cair
se a minha queda é solene?
Sim, caio nos astros
caio de agradecimento
e a minha túnica é feita de descoberta
e nas pálpebras levo o som do mar



Soares Teixeira –14-06-2016
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 14 de junho de 2016

"EQUAÇÃO" - Soares Teixeira



Cada um de nós
uma carta escrita
e por escrever
uma janela aberta
e por abrir
um barco em viagem
e por zarpar

em cada um de nós,
o gesto dentro de um gesto
que já foi
a folhagem de uma árvore
que há-de ser
o centro de um sonho
a acontecer

e na retina
a intimidade
de uma equação

por resolver


Soares Teixeira –11-06-2016
(© todos os direitos reservados)

domingo, 12 de junho de 2016

"DELFOS" - Soares Teixeira



Quando a palavra é luz
o instante é Delfos
e o corpo é asa

Quando o Sol nasce
dos lábios do Saber
acende-se a hora de renascer

Quando a viagem
chega aos dedos do sentir
o tumulto é universo nas veias

e todas as coisas são além
e tudo é acorde e desordem
e prazer de ir, ficando aquém



Soares Teixeira –11-06-2016
(© todos os direitos reservados)

sábado, 11 de junho de 2016

SOBRE O LIVRO “ANUNCIAÇÕES”, DE MARIA TERESA HORTA



Imagino Hildegarda de Bingen e Sandro Botticelli. Imagino-os voltarem-se, surpreendidos com uma luz súbita. Maria e Gabriel estão ali, de mão dada, sorridentes, fulgurante pureza no promontório do prodígio. Começa então a Palavra e a Palavra é o Livro. Uma voz abre-se nos espaços e abre os espaços ao tempo. Poema a poema a voz reúne, acolhe e revela, mistério, rumor de além, respiração marítima, unidade solar, sal da linguagem, medula da sílaba. A voz é o que foi, o que vai sendo e o que será. A voz vem de uns lábios que são fissura de luz no horizonte. A sábia monja beneditina julga estar perante outra das suas visões, o Mestre Florentino quase treme – parece-lhe reconhecer as feições de Maria e do Anjo. Ambos avançam. Surpreendidos e fascinados observam o desenrolar de uma grande história, uma história ímpar, serena e telúrica. Aquela voz, única, una, mas também tríplice, aberta em flor de mistérios, provém dos lábios da Mãe de Cristo, do enviado do Senhor e de… de quem?, perguntam Hildegarda de Bingen e Bortticelli - de Maria Teresa Horta, respondemos nós, que também lá estamos, rodeando o lugar onde tudo se desenrola. E o lugar é o ser viagem.


Soares Teixeira – 07-06-2016
(© todos os direitos reservados)

domingo, 5 de junho de 2016

MARK ZUCKERBEG CONVERSA COM ASTRONAUTAS DA ESTAÇÃO ESPACIAL INTERNACIONAL





Histórica conversa, dia 1 de Junho de 2016, que ocorreu em directo no Facebook, 
entre Mark Zuckerberg e três astronautas da Estação Espacial Internacional,

sexta-feira, 3 de junho de 2016

"SONHO MAIOR" - Soares Teixeira



Às vezes chego a um lugar
onde nunca tinha ido
e penso:

- Foi talvez em sonho
que aqui estive
lembro-me do chão, das paredes,
das cores
sim, das cores,
nos sonhos também há cores,
pelos menos nos meus.

Depois
a realidade chama pelo meu nome
e esqueço
aquela estranha familiaridade
para acontecer apenas
entre o que me rodeia
com a naturalidade
de umas sandálias que atravessam os espaços.
Pode ocorrer que um dia
mais tarde
me recorde
desse tal lugar,
e suceda
dar por mim
simultaneamente cá e lá
a pensar
se essa realidade que vivi
tal como o estar a recordá-la
não serão fragmentos
de um sonho maior




Soares Teixeira – 03-06-2016
(© todos os direitos reservados)