Entro numa página
suspensa no céu
onde está escrito um verso
e
com toda a minha alma
a cumprir silêncio
transformo-me noutro
noutro ainda
em tantos quantos descubro
nas páginas que se sucedem
e
na polpa de cada verso
na imensidão de cada página
vejo aceso um verbo
e
o verbo é ser
regresso
poiso na minha infância
tudo fica para trás
em frente
sobre uma mesa
os meus lápis de cor
e
uma folha em branco
espreito-me
de aqui para lá
de lá para aqui
fecho os olhos
sinto os lápis e a folha em branco
não sei por quanto tempo
um choro
faz com que as minhas pálpebras
se abram ao presente
observo uma criança ao colo da mãe
levo a chávena aos lábios
bebo um pouco de café
bebo um pouco de café
está frio
não dei pelo tempo passar
penso-me
sinto-me verso pesado
e
o verbo é ser
Soares Teixeira – 13-04-2016
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