Assisti ontem, no Teatro Romano de Mérida, a uma representação de Medeia, de Eurípedes. Blanca Portillo encarnou uma Medeia que ficará na história daquele teatro. Terrível, temível e intemporal, Medeia; a mulher que por amor a Jasão traiu o pai e matou o irmão; a mulher que não poude suportar a traição do marido; a mulher que matou os filhos; exilada no tempo; solitária, encontrou-se com o público para partilhar a sua história milenar. Ontem, em Mérida, numa superlativa direcção de Tomaz Pandur aconteceu Teatro na sua expressão máxima. Aristóteles conservou a ideia de que o Teatro deveria servir os interesses da Pólis. Eurípedes, o poeta da busca, foi mais além: libertou o teatro do seu carácter didáctico e religioso; Medeia tem nesse propósito um papel fulcral. Medeia conquista a cena, que antes fora dos deuses e envolve o espectador porque os seus sentimentos são humanos - terrívelmente humanos. Não há ali uma lição de virtude ou de moral - há uma vivência. Blanca Portillo foi uma perfeitíssima Medeia intemporal, aquela que existe em cada mulher ultrajada ao extremo. Bárbara e comovente Medeia viaja pelo tempo com os seus adorados filhos e, de vez em quando, encarna a livre escolha entre o bem e o mal, a brutal condição humana que faz com que o espectador sofra aquelas dores como se fossem suas. Ontem em Mérida aconteceu Medeia; uma Medeia inteligentemente contemporânea fazendo justa homenagem ao pensamento inovador de Eurípedes.
Abaixo um video retirado do Youtube sobre esta Medeia.
E agora uma avassaldora interpretação de Zoe Caldwell, em 1983.
Soares Teixeira
domingo, 30 de agosto de 2009
terça-feira, 25 de agosto de 2009
domingo, 23 de agosto de 2009
Ecce Homo
Só para ver este quadro vale a pena uma visita ao fabuloso Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa. Sempre que revejo este Ecce Homo tenho a mesma sensação de espanto perante a força que sinto emanar da pintura. É inevitável concentrar o olhar na visão daquele Cristo que, com um pano a cobrir a cobrir-lhe os olhos, transmite a mensagem de que está permanentemente a ver um mais além: um cosmos primordial e um cosmos cerebral, e um caminho e uma unidade. É um Cristo não a sofrer mas sim já para lá do sofrimento: um Cristo a Ver. A boca também não é de agonia mas uma boca onde se adivinham palavras. Tudo o que é exterior ao corpo e nos sugere martírio e santificação quase fica num segundo nível, por detrás daquele pano, que parece que também nos cobre. Apetece afastar ambos os panos e olhar Cristo, verdadeiramente olhos nos olhos.
Soares Teixeira
Soares Teixeira
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
A Dança - Henri Matisse
Nesta pintura de Henri Matisse existe algo de primordial, quase sagrado. Estas mulheres em celebração evocam antigos rituais dum tempo de lendas e mitos em que os corpos pareciam florescer da terra numa nudez abençoada. Parecem estar no primeiro dia de si mesmas; criaturas recém-criadas ainda cor de barro, vindas de um céu de azul profundo que envolve um mundo de fantástico verde. A simplicidade do quadro: três cores, o circulo formado pelos braços das mulheres, a curvatura da terra e as curvas dos corpos, enfatiza todo o simbolismo e toda a dinâmica do instante. É um quadro quase fotográfico onde tudo se resume ao essencial, mas que entanto nos oferece qualquer coisa. Essa oferta é um lugar, e esse lugar está entre aquelas duas mulheres que não têm as mãos unidas, que quebram o círculo. Somos convidados a paricipar na dança, no ritual, na celebração, para que o círculo se complete, para que a unidade seja alcançada. Nesta dança que nos sacode o espírito quase podemos adivinhar uma diagonal entre o canto inferior esquerdo (por onde dá a sensação que somos convidados a entrar) e o canto superior direito (onde se pode adivinhar um observador para lá do quadro).
Olhando com atenção para este quadro o tempo torna-se subitamente jovem até quase deixar de existir e somos sacudidos pelo alvoroço de um Mistério nos observa, nos chama, e nos dança no peito.
Olhando com atenção para este quadro o tempo torna-se subitamente jovem até quase deixar de existir e somos sacudidos pelo alvoroço de um Mistério nos observa, nos chama, e nos dança no peito.
Soares Teixeira
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
"HOMENAGEM A LENYA" - Soares Teixeira
Lenya chegou aos astros
E ao poisar na planície de luz
Nasceu uma flor no firmamento
E dela saiu um pássaro
Que uma brisa súbita recebeu
Lenya chegou! Lenya chegou!
Diz a ave para um búzio de cristal
Cantemos irmãs!
Eis Lenya!
A que tem no sorriso um roseiral!
Diz uma estrela
A todo o espaço sideral
Soares Teixeira
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Serra da Arrábida
Linda, linda, linda. Na Arrábida sente-se intensamente aquele apelo ancestral da Natureza, aquele horizonte espiritual que quase faz um nó na garganta, aquele êxtase por se estar mergulhado numa quimera real. A serra e o mar são dois seres que falam entre si, falam com o céu, falam com o tempo, e falam a todos aqueles que se disponibilizam a escutar aquele encanto selvagem e sagrado.
Soares Teixeira
Soares Teixeira
terça-feira, 18 de agosto de 2009
"LUA" - Soares Teixeira
Leve
Descendo
Pela leveza de um gesto
Plena de ausência
Ela veio
Até mim
Abraçámo-nos
E senti-a
Presente nas minhas asas
O lago reflectiu
O nosso romance
Eu uma imagem incerta
Ela imensa real Lua
Soares Teixeira
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