Foto tirada por mim, hoje, no pátio da Livraria Snob, em Lisboa
TERTULIANDO
Palavras a fazer de pássaros
dizem adeus aos lábios dos poetas
e viajam sobre superfícies
que parecem banais
Assim, uma parede estende os braços
porque por ela se espalham voos de aves
e uma outra veste-se de sílabas
da cabeça aos pés
- este o mistério das palavras dos poetas;
ângulos diversos, diversas pulsações do sentir,
diversos mundos a aderir ao corpo,
transformam o banal em balcão de bar
onde copos se inclinam para a boca
enquanto paredes descobrem novas posições
para fazerem amor com o que ninguém vê
Tertuliando se fazem jangadas
que avançam pelos mares
onde cachos de uvas caem de nuvens
que adivinham desassossegos de instintos,
próprios daqueles que buscam por dentro
novas geografias
e por fora se deixam ser
baía de descobertas alheias
Um triângulo de céu pode conversar com plantas
em vasos pendurados numa parede?
Claro que pode – tudo é poesia -,
tudo depende da visão da roda do leme
que preside aos sentidos,
Pobre parede com três tristes linhas de grades,
deixa que em ti entrem palavras a fazer de pássaros,
recebe os sons, os sentires, o céu
Às vezes sou como tu, alta parede em solitária solidão,
mas isso é às vezes
hoje não
hoje, em palavras,,
vou, marítimo,
pelo oceano de astros onde caio
Soares Teixeira – 26 de Junho
de 2024
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