quinta-feira, 8 de agosto de 2024

ALMA MINHA GENTIL QUE TE PARTISTE - LUÍS DE CAMÕES - SOARES TEIXEIRA

 



ALMA MINHA GENTIL, QUE TE PARTISTE


Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Algũa cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

LUÍS DE CAMÕES




terça-feira, 23 de julho de 2024

MARIA JOÃO PIRES - 80 - Soares Teixeira

 




MARIA JOÃO PIRES  - 80
 
80 poemas
80 mãos que voam
80 flores que dançam
em música saúdam Maria,
- João Pires, acrescenta
um pardal saltitando,
e uma gota de orvalho sorri
 
A sair do pêssego da sua música
Mozart surge,
estende a mão,
e o pardal poisa-lhe nos dedos
 
Um rio faz-se piano
e, em silêncio,
todos escutam Maria
- Parece acabada de nascer,
murmura uma árvore
- João Pires, diz o pardal,
que voa para o teclado
levando Mozart consigo
 
80 poemas
80 mãos que voam
80 flores que dançam
canta o mundo,
com voz
de gota de orvalho
 
 
Soares Teixeira – 23 de Julho de 2024
- nos 80 anos de Maria João Pires-
(© todos os direitos reservados)



quinta-feira, 18 de julho de 2024

APENAS MIÚDOS - PATTI SMITH - SOARES TEIXEIRA

 

Leitura expressiva de parte do Primeiro Capítulo do livro "APENAS MIÚDOS", de Patti Smith





'APENAS MIÚDOS', de Patti Smith, é o fascinante retrato de uma época e uma tocante história de dois jovens - Patti Smith e Robert Mapplethorpe - com grande cumplicidade de sonhos e lutas.


sábado, 29 de junho de 2024

O PAI - ADÉLIA PRADO - SOARES TEIXEIRA



O PAI

Deus não fala comigo
nem uma palavrinha das que sussurra aos santos.
Sabe que tenho medo e, se o fizesse,
como um aborígine coberto de amuletos
sacrificaria aos estalidos da mata;
não me tirasse a vida um tal terror.
A seus afagos não sei como agradecer,
beija-flor que entra na tenda,
flor que sob meus olhos desabrocha,
três rolinhas imóveis sobre o muro
e uma alegria súbita,
gozo no espírito estremecendo a carne.
Mesmo depois de velha me trata como filhinha.
De tempestades, só mostra o começo e o fim.

Adélia Prado

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Biografia de Adélia Prado:
Adélia Luzia Prado de Freitas (Divinópolis, 13 de dezembro de 1935) é uma poetisa, professora, filósofa, romancista e contista, ligada ao Modernismo. Considerada a maior poetisa viva do Brasil.
Sua obra retrata o cotidiano com perplexidade e encanto, norteados pela fé cristã e permeados pelo aspecto lúdico, uma das características de seu estilo único. Em 1976, enviou o manuscrito de Bagagem para Affonso Romano de Sant'Anna, que assinava uma coluna de crítica literária no Jornal do Brasil. Admirado, acabou por repassar os manuscritos a Carlos Drummond de Andrade, que incentivou a publicação do livro pela Editora Imago em artigo do mesmo periódico.
Professora por formação, ela exerceu o magistério durante 24 anos, até que a carreira de escritora tornou-se a atividade central. Em termos de literatura brasileira, o surgimento da escritora representou a revalorização do feminino nas letras e da mulher como ser pensante, tendo-se em conta que Adélia incorpora os papéis de intelectual e de mãe, esposa e dona-de-casa.
Em 2024, tornou-se a terceira escritora brasileira (e primeira escritora mineira) a vencer o prêmio Camões em 35 anos.

Fonte dos elementos biográficos de Adélia Prado:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ad%C3%A9lia_Prado

 


quarta-feira, 26 de junho de 2024

TERTULIANDO - SOARES TEIXEIRA

 



LIVRARIA SNOB

Foto tirada por mim, hoje, no pátio da Livraria Snob, em Lisboa

TERTULIANDO
 
Palavras a fazer de pássaros
dizem adeus aos lábios dos poetas
e viajam sobre superfícies
que parecem banais
 
Assim, uma parede estende os braços
porque por ela se espalham voos de aves
e uma outra veste-se de sílabas
da cabeça aos pés
- este o mistério das palavras dos poetas;
ângulos diversos, diversas pulsações do sentir,
diversos mundos a aderir ao corpo,
transformam o banal em balcão de bar
onde copos se inclinam para a boca
enquanto paredes descobrem novas posições
para fazerem amor com o que ninguém vê
 
Tertuliando se fazem jangadas
que avançam pelos mares
onde cachos de uvas caem de nuvens
que adivinham desassossegos de instintos,
próprios daqueles que buscam por dentro
novas geografias
e por fora se deixam ser
baía de descobertas alheias
 
Um triângulo de céu pode conversar com plantas
em vasos pendurados numa parede?
Claro que pode – tudo é poesia -,
tudo depende da visão da roda do leme
que preside aos sentidos,
 

Pobre parede com três tristes linhas de grades,
deixa que em ti entrem palavras a fazer de pássaros,
recebe os sons, os sentires, o céu
Às vezes sou como tu, alta parede em solitária solidão,
mas isso é às vezes
hoje não
hoje, em palavras,,
vou,
 marítimo,
pelo oceano de astros onde caio

 
 
Soares Teixeira – 26 de Junho de 2024
(© todos os direitos reservados)




domingo, 16 de junho de 2024

A MARIA QUINTANS - SOARES TEIXEIRA

 

MARIA QUINTANS


A MARIA QUINTANS
 
Lembro-me
daquela altura
em que começámos a falar de coisas
para lá do alumínio das fôrmas
onde íamos ao forno
 
Falávamos de Ilhas de Tesouros
onde se chegava em jangadas
feitas de rosas e desassossegos
e onde praias de palavras nos convidavam
a ser a propagação de um resto
de nós mesmos
Dedicar-nos-íamos à pirataria;
os nossos sonhos adormecidos
seriam saqueados das suas
casas fechadas
e levados para navios voadores
com velas de chuva e relâmpagos.
Beberíamos ventos, riríamos com os golfinhos
e os nossos brincos seriam os assobios
de outros como nós
 
Quando assim, solares, saíamos do peito,
éramos pombas
capazes de cortar o arame farpado
de quaisquer horas aprisionadas
 
Soube que te entrelaçaste
com a hera de uma noite súbita
 
Incrédulo e em cinza
molho os lábios com silêncio
e aceno-te com um ramo de oliveira
 
Adeus, Maria
 
 
Soares Teixeira - 16-06-2024

segunda-feira, 10 de junho de 2024

CAMÕES - 500 ANOS - INAUGURAÇÃO PLACA COMEMORATIVA





 Foto tirada hoje junto da estátua de CAMÕES, em Lisboa, após inauguração da placa comemorativa do V Centenário do seu nascimento. Disse o soneto 'AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER" e agradeci ao Génio.