Tenho cem coisas na garganta
Todas
são desejo
Quantas
têm rosto?...
Quantas
têm asa?...
Tenho
cem coisas no peito
Todas
são mar
Quantas
tempestades!…
Quantos
lemes quebrados!…
Tenho-me,
cem vezes me tenho
dentro
e fora
da
pedra, da árvore, do rio,
da
flor, do insecto, da nuvem,
da
cidade, do bairro, da rua
Gosto
de andar a pé
e
sentir a liberdade de saborear
as
minhas espessuras e distâncias
transformadas
em linguagem
que
ninguém entende
Tenho
cem reis na garganta
Tenho
cem mendigos no peito
Tenho
cem marinheiros nos passos
Tenho
cem náufragos na pressa
Às
vezes páro para escutar
os
segredos dos bancos de jardim
e
agradeço-lhes esses momentos preciosos
Às
vezes fico íntimo
das
palavras que me chegam do chão
e
agradeço-lhes com um sorriso de raiz
Gosto
de andar por aí;
a
deixar-me atravessar por ideias que conheço
e
por outras que não conheço,
a
ser leite de música
e
escorrer sobre cem coisas
Gosto
de me arrancar das mãos do medo
e de
levar alimento àquele àquele
que
está no ninho – e sou eu
que
está dentro do ovo – e também sou eu
que
está no vento – e continuo a ser eu
Gosto
de ser diverso
e
afasto-me do cristal sonolento
Gosto
de andar como um gato
nos
telhados dos instantes
e
olhar a Lua
com
estes cem olhos que tenho na alma
Não
me peçam viagens sem voz
Eu
canto-me em todos os lugares onde vou
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Soares Teixeira-19-06-2021
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