quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

SONETO XVIII, WILLIAM SHAKESPEARE - SOARES TEIXEIRA




SONETO XVIII - WILLIAM SHAKESPEARE

Shall I compare thee to a summer's day?
Thou art more lovely and more temperate:
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer's lease hath all too short a date:
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimm'd;
And every fair from fair sometime declines,
By chance, or nature's changing course, untrimm'd;
But thy eternal summer shall not fade
Nor lose possession of that fair thou ow'st;
Nor shall Death brag thou wander'st in his shade,
When in eternal lines to time thou grow'st;
        So long as men can breathe or eyes can see,
        So long lives this, and this gives life to thee.



Versão de Vasco Graça Moura

Que és um dia de verão não sei se diga.
És mais suave e tens mais formosura:
vento agreste botões frágeis fustiga
em Maio e um verão a prazo pouco dura.
O olho do céu vezes sem conta abrasa,
outras a tez dourada lhe escurece,
todo o belo do belo se desfasa,
por caso ou pelo curso a que obedece
da Natureza; mas teu eterno verão
nem murcha, nem te tira teus pertences,
nem a morte te torna assombração
quando o tempo em eternas linhas vences:
enquanto alguém respire ou possa ver
e viva isto e a ti faça viver.

sábado, 20 de janeiro de 2018

"AEROPORTOS" - Soares Teixeira

Os poemas são aeroportos
onde é bom poisar
para ir conhecer outras terras,
outras gentes, outros cheiros,
novas paisagens,…
e tudo isso
podemos levar de volta connosco
como recordação
ruas… casas… olhares…
ribeiros… flores…
cabe tudo na mochila
até mesmo aquele par de asas
oferecido por um saltimbanco


Soares Teixeira – 20-01-2018
(© todos os direitos reservados)

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

"AQUI E AGORA" - Soares Teixeira



Ficar no sono do sonho,
dentro do círculo do se?
se eu fosse…
se eu tivesse…
se eu pudesse…
Ficar a iluminar a negação do Ser?
Preservar o grito silenciado?
Suturar indefinidamente a ferida da asa cortada?!
Virar as costas aos espelhos,
para não ver a linha recta
que teima em sair do peito da imagem,
e não sentir na carne e no espírito
a dor dum espinho de luz,
e assim transformar  a renúncia ao sonho
em tempo habitável?!
Ser ardósia onde a palavra esquecimento
é escrita e rescrita e rescrita e rescrita,…
ser vela a chorar por dentro
o pavio que se vai gastando,…
ser sombra amadurecida
diante de fronteira opaca,…
é isso?
apenas isso?
Deixar que tudo se resuma
a areia a escorrer por entre os dedos?
é isso?!
e sem nunca as próprias mãos
abanarem os próprios ombros?
nem mesmo as mãos que saem dos espelhos?
Ser simulacro?!...
Viver em simulacro?!...
Oh mesas repletas de fingidas baixelas
Oh reposteiros de falsas verdades
escutai o uivo da sede
e provai o mar liberto
e provai o murro e o grito
e que os vossos destroços espalhem
aos quatro ventos
e até bem longe
que o amanhã
é uma árvore que se planta
aqui e agora!


Soares Teixeira – 18-01-2018
(© todos os direitos reservados)

sábado, 13 de janeiro de 2018

"TER E SER" - Soares Teixeira



Ter e ser
Sol
em toda a extensão do gesto
mesmo quando as nuvens
dominam o tecto dos dias
Ter e ser
horizonte
em todas os astros do olhar
mesmo quando os labirintos
celebram os seus muros
Ter e ser
vontade
em todas as raízes do sonho
mesmo quando a água do instante
não chega para a sede da árvore
Ter e ser
além mar
celeiro de infinito
luz, asa e grito


Soares Teixeira – 13-01-2018
(© todos os direitos reservados)

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

"COMER POEMAS" - Soares Teixeira



É bom
comer um poema
(com um fio de música por cima,
ainda melhor)
dar-lhe pequenas dentadas
saboreá-lo devagarinho
com uma respiração lenta
colada à luz de uma porta que se abre
e por onde se entra
Faz bem
alimentarmo-nos com poemas
a poesia é vasodilatadora,
muito boa para a circulação sanguínea
e também melhora a vista
Comam poemas, minha gente
comam
vão ver que é bom
Comam poemas


Soares Teixeira – 11-01-2018
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

"VIAGENS" - Soares Teixeira



Pronunciar pássaro
como se a boca fosse ninho
Pronunciar água
como se os braços fossem água
Pronunciar poema
como se a garganta fosse muito antiga
Depois
convergir para um ponto
algures no tempo
e então divergir
para cada raio de Sol
que completa o mar



Soares Teixeira – 09-01-2018
(© todos os direitos reservados)