quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

"NÃO MUDAREI DE ALMA" - Soares Teixeira



As minhas pálpebras atravessam a folhagem das palavras
as minhas janelas são os braços a beber ar fresco
o meu chão tem voz de futuro
os meus jardins são a música que me beija o mar
os meus azuis são os de águia viciada em horizonte
as minhas camisas são de sol com botões de orvalho
os meus calções são um princípio de lugar
vou descalço no coaxar das rãs
no meu gesto o descobrir de um pêssego para lá da porta
nos meus passos o algodão com desejo de ser nuvem
a minha oração é o ser gato sem me assustar com o cair da noite
e não mudarei de alma






Soares Teixeira – 18-01-2017
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

"RECANTOS" - Soares Teixeira



Tenho os meus recantos de alma
a eles me recolho
como se voasse dos meus lábios

para ser outro
não este
outro
com asas de chamamento
grandes asas onde os espaços se alargam
até onde a luz recita amanheceres
É bom ter dentro de mim
lugares assim
onde eu possa descansar
na margem do meu rio
uma pausa
nos dias de óxido de zinco
em que a raíz do canto
está debaixo de uma pedra



 Soares Teixeira – 17-01-2017
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

domingo, 15 de janeiro de 2017

"MAR INTERIOR" - Soares Teixeira



Quando a única realidade
que não dói na carne dos dias
é navegar no nosso mar interior
então é urgente
construir no estaleiro da vontade
o maior dos navios
e ser viagem
é urgente fazer de nós
a arte de assombrar as nuvens
e ir pelo horizonte
como quem se ergue no azul
numa horizontalidade e numa verticalidade
de peito onde vibra o alento da luz
é urgente a coragem




Soares Teixeira – 15-01-2017
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

"FIM DE TARDE" - Soares Teixeira



Fim de tarde
sou lábios que recebem o pôr-do.sol
e a minha alma são mil cravos a crescer
num azul de lira e canto
No horizonte há altares em liberdade
e para todos dirijo a minha única oração
aquela que as árvores me ensinaram
num tempo que tudo era ainda
rio por acontecer



Soares Teixeira – 11-01-2017
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

"CLARIDADE" - Soares Teixeira



Fico a sós
com o gesto de uma árvore
ao ser suave movimento
na nudez do vento
e vou sendo árvore e vento
e demoro-me neste desdobramento
não sei porquê
não sei por quanto tempo
nem em que navio faço a viagem
Nada povoa a casa do meu silêncio
e a minha claridade
é abrir-se um céu dentro de mim
e nele eu sentir-me
uma página
onde devo ser pássaro
antes do fim



Soares Teixeira – 10-01-2017
(© todos os direitos reservados)

domingo, 8 de janeiro de 2017

"O RIBEIRO" - Soares Teixeira



A Primavera que fui
- pálida memória –
dorme no passado
por trás da estrada que atravesso
daquele tempo
de pupilas escancaradas às descobertas
e braços a rodar nas searas dos instantes
resta um pequeno ribeiro
que ainda me corre no rosto
sempre que um pássaro
me embrulha em horizonte
com laço azul
e o pássaro pode ser
um poema, uma paisagem, uma canção
uma melodia, uma árvore, um amigo
por isso
este meu apreço pelas aves
são elas que fazem brilhar
as águas e os peixes
com que enfrento os dias



 Soares Teixeira – 08-01-2017
(© todos os direitos reservados)