domingo, 2 de outubro de 2016

"O MAR" - Soares Teixeira



O mar
sempre o mar
e tantas palavras de rosto branco
a serem espuma nos meus lábios
e tão profunda a respiração do azul
onde a minha matéria é espanto
o mar
permanente cântico
na curvatura do meu sonho


Soares Teixeira – 06-09-2016
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 4 de julho de 2016

"TU E EU" - Soares Teixeira



Sol
tu és a primeira sílaba do meu gesto
tu és o primeiro rio do meu olhar
tu és a primeira incandescência do meu centro
por isso
eu possuir-te nos meus lábios
eu ser azul no meu caminho
eu ser asa na distância
é tão fácil

Sol
tu e eu
a sós
e sobre a mesa o universo

ao longe um pássaro
a nascer do mar



Soares Teixeira – 04-07-2016
(© todos os direitos reservados)

domingo, 3 de julho de 2016

"ANUNCIAÇÕES", de MTH, EM DEBATE NO PALÁCIO FRONTEIRA


Fotografia tirada aquando do Curso promovido pela Fundação das Casas de Fronteira e Alorna sobre o mais recente livro de Maria Teresa Horta, Anunciações" e que teve lugar dias 29 e 30 de Julho.

"UM DIA" - Soares Teixeira



Um dia
sem mais proa no olhar
os braços tombarão
como dois mastros vencidos
e nenhuma balsa
para o derradeiro gesto
nada

ar ausente da boca
frio em todos os tectos do corpo
pêndulo inerte
apenas o resto
o nada

onde os segredos do vento
onde o perfume do Sol
onde o cântico dos dias
no rosto que já não é vinha?

e nem uma pergunta muda dos astros
nada



Soares Teixeira – 03-07-2016
(© todos os direitos reservados)

sábado, 2 de julho de 2016

"ENCONTRO" - Soares Teixeira



Aquilo que tenho de meu
é o encontro dos sons de dois sinos
distantes um do outro
não só em lugar
mas também em tempo
sou toda a minha pele estendida
sobre os astros
e estou onde me acontece Sol

Escrevo cartas com o azul do céu
e com a vastidão dos oceanos
e lanço-as ao vento
para que mas venha entregar

Recebo-as
nos inícios
e no ponto de encontro

E regresso sempre
onde me espero



Soares Teixeira – 28-06-2016
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 28 de junho de 2016

"O IRREPRESENTÁVEL" - Soares Teixeira



Fernando Pessoa observa-se
nos outros que são ele? pergunto
e vice-versa,  responde uma lagarta
que desliza pelo canteiros dos instantes
reclino-me na cadeira do meu pensamento
olho para as mãos das pessoas e vejo névoa
uma névoa que encobre todos os possíveis
carícias e bofetadas, música e facas
o alfa e o ómega
o ser e o não ser
o tudo e o nada
num aperto de mãos tudo pode acontecer
um mundo que começa
um mundo que acaba
uma árvore que cresce
a lagarta acompanha-me através dos instantes
não tenho grande simpatia por lagartas, confesso
mas por esta sim, é útil ao meu ecossistema
alimenta-se vorazmente do meu excesso de pensamento
e isso é bom
come, come, lagarta
vai comendo as folhas verdes das minhas ideias
para que novas folhas nasçam na árvore que sou
e para que os caminhos permaneçam limpos
esta lagarta é um bicho-da-seda
como aqueles que tinha em criança numa caixa de camisas
e que alimentava com folhas de Amoreira
sim porque eu sou uma Amoreira
sempre fui
ainda não o tinha dito, pois não?
Levanto-me da cadeira e caminho ao encontro de Fernando Pessoa
observo-o observando-se e observando-me
e sinto-me pertença de um olhar alheio, o dele
e pertencer é ser…
a lagarta contorce-se e ri-se
Tudo é um teatro
e nós, para sermos nós, temos de ser o outro que nos compreenda
ou pelo menos tente
e tudo é estreia e tudo é ensaio geral e tudo é pano a cair
se todas as pessoas da sala, pensassem assim
quanta multiplicidade, quantas intercepções, quanta loucura
quantas mãos de cinza e sangue
trabalha lagarta trabalha vai comendo o meu excesso de ideias
        pausa     pausa     pausa    
É bom fazer pausas e recolher silêncio no corpo
ser apenas lábios a beber o ar
        leveza, transparência, serenidade
                    o irrepresentável
e depois partir
ir
com uma borboleta por companhia
E Fernando Pessoa?
olha, lá vai ele, em tanta gente que foi, que é, que somos
Às vezes gostava ser uma lagosta – são elegantes
mas acontece que sou Amoreira
e ainda bem
senão como poderia dar de comer ao bicho-da-seda dos meus instantes
Por agora adeus
vou fazer companhia aos astrolábios




Soares Teixeira –27-06-2016
(© todos os direitos reservados)

domingo, 26 de junho de 2016

FOTOGRAFIA DE SOARES TEIXEIRA E MARIA TERESA HORTA

Eu e Maria Teresa Horta na Feira do Livro de Lisboa. 11de Junho de 2016.

Autógrafo de Maria Teresa Horta, no Livro "Anunciações"


Capa do Livro "Anunciações", de Maria Teresa Horta