Há dias em que as palavras não
querem ser oferendas ao pensamento e o que apetece é não pensar em nada,
absolutamente nada. Para quê pensar se tudo é irreconhecível? Antes o vazio, o
nada. Lá ao menos não há sede de sangue, nem cavalos atravessados por lâminas
de medo, nem gargantas onde serpentes celebram a morte de veias livres. O vazio…..
o nada….. sem centro ou periferia, sem começo ou fim, sem luz ou sombra ….. o
vazio ….. o nada ….. apenas ….. e tanto. E é tanto o que existe quando a
respiração pode ser leve, leve, leve, levíssima, mais leve qualquer punhal a
aguardar a hora de ser riso de hiena a celebrar traição. Ficar numa ausência,
num tempo incerto, num espaço ocupado não pelo corpo mas pelo espírito –
liberto de todos os caminhos, de todas as origens, de todo o horizonte. Ficar
longe, bem longe do hálito de latrinas vestidas de seda.
Soares Teixeira – 21-04-2016
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