Hoje
entrei dentro da concha
de um búzio
de um búzio
que apanhei na praia
depois
sentado na areia
escutei a minha voz
numa memória
que fui construindo
ao som do mar
Quando dei comigo
estava no pôr do sol
que era belo
como sempre
mas…
diferente
havia nele algo profundamente
longínquo
senti-lhe um respirar antigo
perguntei-lhe se me estava a pedir
para acreditar nas lendas e nos mitos
silêncio
enquanto aguardava a resposta
a espuma
que sabia que eu não estava a fingir
chiava no chão
num branco regresso do trabalho
Uma gaivota fez-se dedos
e rodou-me o queixo
ao meu lado um barco Fenício
acabado de chegar
sim, era Fenício, tenho a certeza
porquê?
porque mo disse o único marinheiro
da embarcação
disse-mo olhos nos olhos
e eu acreditei
- e como não acreditar,
se quem estava diante de mim
com corpo de azul a começar
e alma de ilhas a voar
era eu?!
eu!
a ver-me …
homem búzio
sentado à beira mar
Soares Teixeira – 02-08-2015
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