quinta-feira, 7 de maio de 2015

"SEMPRE PRAIA" - Soares Teixeira





Dentro do poeta
o poema
nasce
e o seu corpo nu
convida os espaços

nesses espaços
o poeta
renasce
onda em oceano
viagem sem fim

voar
procurar o extremo
de um início azul
sempre praia
em mim



Soares Teixeira – 07-05-2015
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 5 de maio de 2015

"DESCOBERTA" - Soares Teixeira





No estuário do olhar
o mar
inexplorado ondular de mitos
longo e profundo
agudo enigma
a incendiar o medo
mas também talento
a crescer da chama
em coluna de vontade
e as longas pálpebras do Tejo
a voar do rosto liquefeito
da saudade
alongando o rio inaugural
desde a retina de Portugal
até à intensa solenidade
de outros lugares
também eles
respiração do mundo

foi assim
que a humanidade descobriu
que era um navio



Soares Teixeira – 05-05-2015
(© todos os direitos reservados)

domingo, 3 de maio de 2015

"RELVA" - Soares Teixeira





Sinto um súbito querer
de em mim acordar a relva
para tornar mais fáceis
os passos dos instantes

porquê? ilusão? fantasia?
talvez a anelante inquietação
dos dias
ou quem sabe
num outro que fui ou serei
o verde de um desejo vagabundo
que um mistério maior
faz pensamento de agora

oiço os pássaros
cantam num eu completo
o céu é azul
desejo-me sossego no mundo



Soares Teixeira – 03-05-2015
(© todos os direitos reservados)

sexta-feira, 1 de maio de 2015

"SEGREDO" - Soares Teixeira





Curioso
sinto que no voo das gaivotas
há uma intermitência de pausa
a revelar o segredo das suas asas

parece que as movimentam
com o único propósito
de ficarem imóveis no ar
a serem outras noutra realidade

é nessas pausas
que vão surgindo como a luz de um farol
é nessas pausas
que mais forte batem as minhas asas
é nessas pausas
que mais intenso é o esquecimento
de tudo o que não é um sol de mar e céu
é nessas pausas
que sinto a minha desconhecida existência
sinto-a elevar-me
à fertilidade do desconhecido
onde finalmente consigo ser
a verdadeira medida da liberdade



Soares Teixeira – 01-05-2015
(© todos os direitos reservados)

quinta-feira, 30 de abril de 2015

"INTIMIDADE" - Soares Teixeira





Mar
e habitar o instante sem nome
do poema a acontecer
nos lábios líquidos das ondas

céu
e beber o azul da flor do horizonte
numa demora da alma que se ilumina
até ao fundo do mistério

navegar
e ser silêncio segredado
à íntima vastidão dos espaços
que se abrem à sede das pálpebras



Soares Teixeira – 30-04-2015
(© todos os direitos reservados)