sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

"LIBERDADE!" - Soares Teixeira





Liberdade!
coluna vertebral
do pensamento
corda vocal
do gesto

liberdade!
sempre
acesa
esta sede
em linha recta
este abraço
entre o sangue
e o sol

liberdade!
de ascender
em raíz
e em árvore
dentro e fora
do Ser
ponteiro vivo
que marca o tempo
da vontade

liberdade!



Soares Teixeira – 06-02-2015
(© todos os direitos reservados)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

"BEIJAR DULCINEIA" - Soares Teixeira





Diante do generoso decote
da lua cheia
ter por corpo apenas ideia
e ser Dom Quixote

não resistir
avançar com galhardia
subir nos espaços
como quem vence
pelos seus próprios passos
e lá
no centro do círculo
da suprema magia
apaixonadamente
beijar Dulcineia



Soares Teixeira – 05-02-2015
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

"SÓ TU SABES, LUA" - Soares Teixeira





Chego a casa cansado
visto o meu roupão de caminho
calço as pantufas de luar
e sou música dentro da música
onde descanso num declive de consciência
tenho sono
apetece-me dormir
irei sonhar?
só tu sabes, lua
em que me hei-de transformar
depois de adormecer
esta noite gostava de ser árvore de sílabas brancas
e que todas as minhas folhas me fizessem voar
rumo a um destino que seja princípio de onda
depois beber infinito
e ser mar
numa qualquer cor do tempo



Soares Teixeira – 04-02-2015
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

"SER POEMA" - Soares Teixeira



Fonte da foto: http://www.grazia.fr/au-quotidien/couple/articles/les-illusions-amoureuses-et-si-l-amour-n-existait-pas-54000



Regra número um
eu colocar-te uma estrela no ombro da noite
regra número dois
tu lavrares o meu chão de luz que te abraça

o resto
o ser fruição das espirais
beber gôndolas por cálices de amanhecer
e vibrar na transparência
de sermos veemente verdade
a criar as novas argilas do novo mundo
aquele para onde vamos descendo
como deuses de carne musical e sangue de vento
livres para dizermos amor
com asas de origem
e iniciais
para em beijo escolhermos
o ser poema para lá da última fronteira


Soares Teixeira – 03-02-2015
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

"FASCÍNIO" - Soares Teixeira



Foto do blog: http://profeugeniocorrea.blogspot.pt/2013/06/o-impacto-das-crencas-e-dos-valores-nos.html



Porquê o fascínio pelas esferas inacessíveis?
Porquê o abrir a cabeça e sair do corpo
com um cheiro a maresia, uma flor entre os dedos
e uma máquina fotográfica ao pescoço?
Porquê subir o cesto da gávea do pensamento
com uma mala cheia de faz de conta
e um casaco feito de luz a murmurar os seus segredos?
Bela é a obra que se inaugura com o olhar
sim
e por isso colocar um espelho diante do desejo
caminhar entre o passado e o futuro
ao longo de páginas rasuradas e outras de verbos a arder?
Viver como quem trepa
e sempre anterior à última coisa que se quer conhecer
à última porta que se quer abrir
ao último filho nascido da pergunta grávida de si mesma
Há qualquer coisa de esboço, qualquer coisa de herança
qualquer coisa de fórmula que se torna parte do sangue
qualquer coisa de sangue que se torna parte da fórmula
Há um cósmico bebé que estende a mão
que se alonga desde um prefácio
sempre em construção
até a um derradeiro capítulo
que há-de chegar sem pedir consentimento
sim
e entretanto
o fascínio pelas esferas inacessíveis
Visceral conforto esta intimidade com o incompreensível
Alto e forte
o sol coloca-nos às suas cavalitas
talvez por isso este fascínio pelos outros pastores do incrível



Soares Teixeira – 02-02-2015
(© todos os direitos reservados)