segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

"FASCÍNIO" - Soares Teixeira



Foto do blog: http://profeugeniocorrea.blogspot.pt/2013/06/o-impacto-das-crencas-e-dos-valores-nos.html



Porquê o fascínio pelas esferas inacessíveis?
Porquê o abrir a cabeça e sair do corpo
com um cheiro a maresia, uma flor entre os dedos
e uma máquina fotográfica ao pescoço?
Porquê subir o cesto da gávea do pensamento
com uma mala cheia de faz de conta
e um casaco feito de luz a murmurar os seus segredos?
Bela é a obra que se inaugura com o olhar
sim
e por isso colocar um espelho diante do desejo
caminhar entre o passado e o futuro
ao longo de páginas rasuradas e outras de verbos a arder?
Viver como quem trepa
e sempre anterior à última coisa que se quer conhecer
à última porta que se quer abrir
ao último filho nascido da pergunta grávida de si mesma
Há qualquer coisa de esboço, qualquer coisa de herança
qualquer coisa de fórmula que se torna parte do sangue
qualquer coisa de sangue que se torna parte da fórmula
Há um cósmico bebé que estende a mão
que se alonga desde um prefácio
sempre em construção
até a um derradeiro capítulo
que há-de chegar sem pedir consentimento
sim
e entretanto
o fascínio pelas esferas inacessíveis
Visceral conforto esta intimidade com o incompreensível
Alto e forte
o sol coloca-nos às suas cavalitas
talvez por isso este fascínio pelos outros pastores do incrível



Soares Teixeira – 02-02-2015
(© todos os direitos reservados)

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

"SONHAR" - Soares Teixeira





Confiar?
em quem?
se só vejo traição a palpitar

Confio
no céu deslumbrado com o mar
no mar deslumbrado com o céu
e nas árvores
deslumbradas
como eu
com os astros que abrem a noite
ao silêncio do ar
confio
no sossego que acaricia a luz
na plenitude dos instantes raros
e adormeço
embalado em côncavos devaneios
que me iludem sem que me importe
dormir
esquecer
sonhar com dias mais claros



Soares Teixeira – 22-01-2015
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

"AH COMO ERA NOSSA" - Soares Teixeira





Ah como era nossa
a alta claridade das vinhas do delírio

nua como um sol
estavas
dentro do movimento
os braços em arco de lentidão
abriam as pétalas da flor em conquista de espaço
e a cintura era o pássaro da dança

tigre como um relâmpago
eu era
a extremidade da luz
e os meus membros amavam o desejar-te
por isso intermináveis colunas de fogo
erguiam-se do meu mais íntimo chão

depois
o mosto
o sermos o som das cores gritadas
o sermos humanos
o estendermo-nos em unidade
na celebração da chama

Ah como era nossa
a liberdade



Soares Teixeira – 21-01-2015
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

"3" - Soares Teixeira





Do ventre do vosso cérebro nasci
e nunca me cortaram o cordão umbilical
que sou eu afinal?
porque estou aqui?


Soares Teixeira – 19-01-2015
(© todos os direitos reservados)