Porquê o
fascínio pelas esferas inacessíveis?
Porquê o abrir
a cabeça e sair do corpo
com um cheiro a
maresia, uma flor entre os dedos
e uma máquina
fotográfica ao pescoço?
Porquê subir o
cesto da gávea do pensamento
com uma mala
cheia de faz de conta
e um casaco
feito de luz a murmurar os seus segredos?
Bela é a obra
que se inaugura com o olhar
sim
e por isso colocar
um espelho diante do desejo
caminhar entre
o passado e o futuro
ao longo de
páginas rasuradas e outras de verbos a arder?
Viver como quem
trepa
e sempre
anterior à última coisa que se quer conhecer
à última porta
que se quer abrir
ao último filho
nascido da pergunta grávida de si mesma
Há qualquer
coisa de esboço, qualquer coisa de herança
qualquer coisa
de fórmula que se torna parte do sangue
qualquer coisa
de sangue que se torna parte da fórmula
Há um cósmico
bebé que estende a mão
que se alonga
desde um prefácio
sempre em
construção
até a um
derradeiro capítulo
que há-de
chegar sem pedir consentimento
sim
e entretanto
o fascínio
pelas esferas inacessíveis
Visceral
conforto esta intimidade com o incompreensível
Alto e forte
o sol
coloca-nos às suas cavalitas
talvez por isso
este fascínio pelos outros pastores do incrível
Soares Teixeira – 02-02-2015
(© todos os direitos reservados)