terça-feira, 7 de outubro de 2014

"INICIAL" - Soares Teixeira








Inicial
o pássaro voa
a legenda é de silêncio
o resto
é tempo que se escoa
dentro do sonho
de uma rosa
eu
sempre horas da cabeça aos pés
abro as mãos
e deixo cair o tempo
com o sentimento e o sentir
de que às vezes é bom
recordar o futuro
à proa do passado
sem contraluz
sem praia adiada
de lágrima intacta
no baú da emoção
leve
com aquela leveza que consente
no peito uma gare de comboio
no olhar uma curva de adeus
na boca um sabor a viver
livre
sem estar legendado
sem estar rotulado
sem ser inverno da minha ilusão
inicial



Soares Teixeira – 07-10-2014
(© todos os direitos reservados)

domingo, 5 de outubro de 2014

"TRAPEZISTAS" - Soares Teixeira







Porquê um poema?
porque sou árvore e tenho sede
porque uma formiga se abre em leque
porque uma montanha cabe dentro da pupila
porque o mar é uma flor ao vento
   e os pássaros transportam deuses nos bicos

o poema purifica
toca o rio que percorre todas as distâncias
toca o ser e o não ser que habita debaixo da pele
toca a secreta e tumultuosa superfície dos corpos  
toca o peixe e o trigo que voam do teu olhar
   para o azul de onde se libertam todos os princípios

o poema sabe a astro
e escorre na garganta como luz e mel
e penetra na carne com intimidade de nuvem
e acaricia as veias que navegam nos dias
e revela à alma os mistérios que habitam
   na jovial liberdade das palavras

assombra
o poema
e é preciso que assombre
para que desassombrados sejamos
os tais trapezistas
   que as pálpebras nos pedem para ser



Soares Teixeira – 05-10-2014
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

"JARDIM DO ALÉM" - Soares Teixeira







Com um beijo
transformaremos
o jardim branco
que entre nós
ainda existe
e um no outro
seremos a líquida rosa
que dará cor
às flores que perguntam
ao limiar do horizonte
para quando
a prometida água solar

Olha-me
olhos nos olhos
é fácil
há tempo no tempo
para que o nosso olhar
abra as portas dos instantes
é fácil
basta querermos ser o uivo sideral
de um lobo renascido
basta querermos ser o interior
de um peixe em movimento
Olha-me
olhos nos olhos
de flauta para flauta
de lua para lua
de nascente para nascente
de resina para resina
de incêndio para incêndio
Olha-me
olhos nos olhos
como se as nossas pupilas fossem mãos
no cimo de uma montanha
erguida sobre as costas de um insecto
que sem saber a transporta
     fácil
     diria se lhe preguntássemos
como se as nossas pupilas fossem mãos
no oásis de um deserto
unidas pela sombra de uma palmeira a dançar
sobre os segredos das noites e dos dias
     fácil
     diria se lhe perguntássemos
Olhos nos olhos
olha-me como quem vê
para lá para lá do musgo que cresce na pedra
para lá do que passa e do que fica
olha-me como quem procura
e procurando se deixa procurar
Olhos nos olhos
caminhos a voar pelo ar
que floresce da atmosfera
cisnes com asas de harpas
a sussurrar sons de estrelas
vitória dos cálices à beira-mar
cantada por piratas e poetas
firmamento das regiões humanas
onde cintilam corações prestes a nascer
Olhos nos olhos
     fácil
     dizem as aves
Esperar para quê?
para quê guardar o sopro da palavra?
para quê adiar o relâmpago sobre o mar?
Não vamos fazer esperar mais
a página vazia de gotas, auroras e poentes
não vamos guardar mais
a luz dentro dos pulmões
não vamos parar relógios de sangue e carne
ávidos de versos a libertar pardais
abracemo-nos
membranas que somos da incandescência
espirais que somos de cavalos a galope
verbo que somos de mundos a emergir
abracemo-nos pois
como quem abraça o sol que de si nasce
abracemo-nos pois
para que se cumpra o princípio
Solte-se o fogo-de-artifício
soem bombos e pandeiretas
que comece a festa
e em festa
deixemos que a vontade dos lábios
seja a asa que comanda o ser
deixemos que no templo dos lábios
a lei seja a do cometa apaixonado
deixemos que o ritual dos lábios
seja a celebração do vinho e do mel
abracemo-nos pois
poemas a respirar uma nova maresia
cúpulas a flutuar na manhã de um sino
mesa posta para a unidade
abracemo-nos pois
e que se cumpra o beijo
rubro
aceso
beijo longo a transbordar para as margens
férteis
do jardim branco
jardim ainda aquém
aquém do mistério
aquém do significado dos signos
aquém do amor aberto em arte
aquém da arte aberta em lua
aquém de lua aberta em nós
abracemo-nos em eternidade de beijo
abracemo-nos em luz de beijo
beijo de além
além semente
além mirante
além ostra
além astro
beijo de prodígio
beijo encantado
líquida rosa
fantástico princípio de todas as quimeras
no jardim branco dos que ainda são
esboço do seu percurso
     É fácil
diremos depois
já mil cores
já arco-íris em cada segundo
     É fácil
diremos depois
com a linguagem da pele
     É fácil
dirão os nossos cabelos verdes
     É fácil ser descoberta no jardim do além
     este jardim que sorri
     aos que em si iniciados
     iniciaram a nova era das flores
dirão os nossos gestos de azul a rolar no azul
     Fácil

Beijemo-nos pois
sem demora
para que todas as nossas pétalas
possam ser a alegria
da liberdade lançada aos ventos



Soares Teixeira – 29-09-2014
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Álvaro Velho do Barreiro – primeiro jornalista português



Álvaro Velho do Barreiro – primeiro jornalista português



José Vitor Graça Teixeira
(Pseud. Literário: Soares Teixeira)

As crónicas de historiadores da Antiguidade que dão voz aos relatos do Almirante Fenício Hanão e do grego Píteas, ousados navegadores mediterrânicos que se aventuraram até às costas africanas e às ilhas nórdicas, exerceram durante largo período de tempo um fascínio quimérico sobre sucessivos povos. Igualmente assombrosas as descrições presentes no paradigmático Livro das Maravilhas de Marco Polo levaram a que os relatos do mercador Veneziano sobre o fabuloso Extremo Oriente tivessem tido o efeito de uma voz a ressoar na Europa Medieval. As literaturas resultantes destas viagens, apesar do seu inegável contributo para o alargar dos limites do conhecimento humano, estavam, porém, substancialmente subordinadas a uma percepção filtrada por razões teológicas. A visão espiritualizada do homem e das coisas assente em conceitos geográficos ptolemaicos, muitos deles erróneos, mas tornados artigos de fé, levou durante séculos a elaborações místico-filosóficas, com descrições muitas vezes surrealistas que contribuíram para que grande parte da face do mundo permanecesse oculta por véus de mistérios intransponíveis. 

Nascido em rudes terras, Portugal cresceu e foi cumprindo o seu destino mítico. O conceito de Império de Cristo transformou-se em estratégia factual. Monges e cavaleiros, trovadores e povo acreditaram na ideologia de um destino marcado pela vontade divina. Acreditaram ter sido os escolhidos por Deus para uma obra messiânica e identificaram-se com o sopro do Espírito Santo para, numa odisseia jamais vista, dilatar "A fé, o Império e as terras viciosas", como haveria de cantar o sublime Camões. À medida que, pela acção das armas e da política, Portugal impunha as suas fronteiras, a Língua Portuguesa acompanhava esse processo de afirmação e protagonismo. A proclamação por D. Dinis em Maio de 1289 de que todos os documentos emitidos pela chancelaria régia deveriam ser redigidos em português constitui um passo fundamental desse processo de maturação. A notável acção de pedagogia social exercida pelos esclarecidos Príncipes da Ínclita Geração, D. Duarte e D. Pedro que, em obras como a Ensinança de Bem Cavalgar a Toda a Sela, o Leal Conselheiro, ou a Virtuosa Benfeitoria mostram o seu empenho em dotar a pátria de valores éticos e morais, representa outra grande referência. Igual destaque para Fernão Lopes que, encarregue de edificar as fundações da memória colectiva, usou de uma grandiosa visão para compreender o todo colectivo nacional, elevando a literatura portuguesa à monumentalidade.

Nessa marcha evolutiva a literatura de viagens constitui uma etapa de suprema importância. Representa a passagem de testemunho do homem essencialmente crédulo para o homem essencialmente inteligente, o declínio da mentalidade medieval e o emergir do pensamento crítico e da ciência moderna, o encontro com o Outro, a visão planetária. 

O manuscrito de Álvaro Velho do Barreiro referente à primeira viagem de Vasco da Gama à Índia constitui um dos documentos cimeiros dessa literatura, não só pelo seu carácter precursor do género literário em si, como também pela vibrante e sedutora originalidade com que o mareante nos relata aquela que foi uma das maiores aventuras da história da humanidade. Através de uma ardente auscultação da realidade e transposição da matéria observada e vivida para um modelo discursivo inédito Álvaro Velho afasta-se em absoluto do abstracto e da alegoria para se tornar repórter de acontecimentos quotidianos por si vividos. Definitivamente para trás ficam narrativas onde a concepção ptolemaica do mundo fazia aos Velhos do Restelo, parecer distante, mesmo inatingível, a conquista dos mares "Ainda além da Taprobana" e o alcançar de terras "Em busca da espiçiaria".

A forma notável como através de um discurso onde pontuam escassos ornatos subjectivos, Álvaro Velho, numa correcta adequação cronológica, conseguiu a convergência de questões de natureza antropológica, socioeconómica, etnográfica, psicológica e científica, faz com que ainda hoje os seus textos se mostrem atraentes e imprescindíveis. Foi o seu posicionamento como observador constante e testemunha participativa que lhe permitiu optar por um tipo de escrita sem precedentes onde a noção de espaço e de tempo se assumem como categorias nucleares para uma objectividade de pensamento emergente da desestruturação do sistema e da cosmovisão medievais. Alguns consideraram como fraco o estilo literário usado por Álvaro Velho. No entanto, o manuscrito do mareante da odisseia gâmica deverá analisado mais por aquilo que configura na história de Portugal do que pela componente estética. Fazendo o seu enquadramento dentro de uma ideologia de aventura e conquista do futuro cuja acção o autor, é lícito admiti-lo, deveria estar a sentir em alto grau, não será erróneo inferir que a sensibilidade de Álvaro Velho se tenha deliberadamente concentrado mais na essência noticiosa dessa mesma acção do que na forma léxico-gramatical da sua redacção. Uma sensibilidade voltada, pois, para os factos concretos como consequência de providencial apelo interior a um método cognitivo. Este tendo como objectivo a apreensão e registo da realidade factológica que acompanhasse a estratégia de vanguarda da grande e vertiginosa aventura humana levada a cabo pelos Portugueses no seu desígnio de, através da expansão de um processo mercantilista, criar o Estado Ecuménico de Deus de que o Rei de Portugal seria o grande impulsionador.

Pelo seu testemunho, único e de vibrante originalidade, o manuscrito de Álvaro Velho, descoberto em 1834 por Alexandre Herculano no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e levado pelo grande historiador para a Biblioteca Pública Municipal do Porto onde se encontra arquivado com o número 804, tornou-se ao longo da história referência preciosa para investigadores das humanidades e das ciências positivas. Cronistas como Valentim Fernandes, Fernão Lopes de Castanheda, Damião de Barros, Gaspar Correia e Historiadores e investigadores como Diogo Köpke, Alexandre Herculano, Franz Hümmerich, Ravenstein, Gago Coutinho, Luís de Albuquerque, Joaquim Barradas de Carvalho e José Caro Proença serviram-se do manuscrito de Álvaro Velho para aturados estudos da épica viagem, que representou simultaneamente o consolidar da ousada conquista dos mares do Atlântico Sul e a destemida incursão no Oceano Índico onde é alcançado o velho e mítico mundo Asiático. 

O notável documento que nos relata a epopeia do Gama tem recebido ao longo da história classificações várias sendo as mais comuns de diário ou roteiro. Quanto à designação de diário de bordo assinale-se que estes são textos onde os pilotos apontam diariamente todas as informações de interesse para a navegação tais como as distâncias percorridas, altura do Sol e das estrelas, estado do mar ou leituras da declinação da agulha, indicadores vários da área onde o navio se encontra, etc. No que concerne à segunda designação, roteiros são textos náuticos de ajuda à navegação que os marinheiros portugueses começaram a escrever no século XV e dos quais se socorriam nas viagens. Nesses textos deveriam estar indicados os principais portos, as distâncias que os separavam bem como acidentes costeiros e linhas de rumo que os uniam, informações essas muitas vezes coligidas para livros de marinharia onde os pilotos podiam encontrar aquilo que lhes interessava para a prática da navegação. 

Álvaro Velho do Barreiro, para além do registo de informações atinentes aos roteiros e aos diários de bordo relata outro tipo de acontecimentos nomeadamente os ocorridos em terra, nos quais tomou parte activa. Refiram-se como exemplo os vários desembarques na ilha de Santa Helena, o pitoresco episódio da aventura de Fernão Veloso, a sua participação na exploração do chamado "Canal Norte da Ilha de Moçambique" ou ainda os importantes acontecimentos a que assistiu na Índia destacando-se entre eles a recepção de Vasco da Gama pelo rei de Calecut. 

Mais correcta será a designação de Jornal. Joaquim Barradas de Carvalho em À la recherche de la Spécificité de la Renaissance Portuguaise diz-nos: "Em primeiro lugar o jornal da Primeira viagem de Vasco da Gama a Índia, em 1497-1499, escrito por Álvaro Velho, certamente o mesmo Álvaro Velho do Barreiro de que nos fala Valentim Fernandes numa das suas descrições" (p.275) e mais adiante: "Enfim, não esquecer que Valentim Fernandes, no fim da sua obra (ps 96 do manuscrito), cita Álvaro Velho, o Álvaro Velho do Barreiro autor do Jornal da primeira Viagem de Vasco da Gama à Índia" (p.339).

Para melhor apreensão da magnitude do manuscrito de Álvaro Velho torna-se pertinente atender à definição de dois conceitos jornalísticos: o conceito de notícia e o de lead. Silva Araújo em "Vamos falar de jornalismo" citando alguns autores apresenta-nos estas definições de notícia: "Narração, na forma mais objectiva possível, de um facto verdadeiro, inédito e de interesse geral (Domenico de Gregorio, Metodologia del Periodismo), " É a comunicação de factos novos surgidos na luta pela existência do indivíduo e da sociedade " (Emílio Dovifat, Periodismo, I vol.), (p42). Fazendo a articulação com a notícia diz-nos o mesmo autor sobre o lead: "A notícia é a narração de um acontecimento. No lead pretende-se dar o mais importante desse acontecimento, respondendo, pelo menos, a quatro perguntas fundamentais: quem foi? o que aconteceu? onde aconteceu? quando aconteceu?", (p49).

Estas definições levam a que o notável documento deva ser considerado como um verdadeiro trabalho jornalístico. Um trabalho escorreito e eficaz pelo modo como informa e cativa. Um marco no processo evolutivo da história da literatura portuguesa.

José Caro Proença na sua notável obra "Encobrimentos nos Descobrimentos" atribui ao manuscrito de Álvaro Velho talvez a mais clarividente classificação. Diz o investigador: "Jornal noticioso, quiçá o seu verdadeiro género literário-semântico" (vol II p13) e mais à frente adianta: "Não existindo outro documento anterior ao mencionado Ms 804, pelo seu género literário muito justamente consideramos o seu autor presuntivo, Álvaro Velho do Barreiro, o precursor do jornalismo moderno, português e universal, emergente das viagens transoceânicas de longa duração e grande extensão" (vol II p18).

Mas, tomando como referência o método de decomposição do manuscrito em excertos noticiosos proposto por José Caro Proença, analisemos alguns dos relatos de Álvaro Velho:

"Partimos de Restelo um Sábado, que eram oito dias do mês de Julho da dita era de 1497, nosso caminho, que Deus Nosso Senhor deixe acabar em seu serviço, Amen".

Nestas escassas palavras Álvaro Velho condensa todos os elementos necessários à notícia. Através de uma notável comunicabilidade fala objectivamente e com verdade de um acontecimento, actual e com interesse, atributos presentes ao longo da empolgante reportagem sobre a odisseia gâmica.
Decomposição da notícia:
Quem foi: Os tripulantes da frota de Vasco da Gama
O que aconteceu: Partiram
Onde aconteceu: Restelo, Lisboa
Quando aconteceu: Sábado, oito de Julho de 1497
Ainda uma outra passagem do manuscrito:
"Em vinte e cinco dias do dito mês de Novembro, um Sábado à tarde, dia de Santa Catarina, entrámos em a Angra de São Brás, onde estivémos treze dias porque nesta angra desfizemos a nau que levava os mantimentos e os recolhemos aos navios".
Fazendo a decomposição da notícia, temos:
Quem: Os marinheiros da frota de Vasco da Gama
O quê: Desmantelaram a nau que levava os mantimentos
Onde: Na Angra de São Brás
Quando: Vinte e cinco de Novembro, Sábado à tarde, dia de Santa Catarina
Nesta notícia, estruturada de uma forma precisa, Álvaro Velho relata-nos um acontecimento que elemento fundamental na política portuguesa: o sigilo. Portugal, como grande nação na vanguarda da investigação científica mantinha particular atenção aos seus segredos. 

Álvaro Velho relata-nos assim a partida de Melinde: 

"E (de Melinde) fomos em leste a demandá-la (Calecut). E aqui é a costa de norte e sul (do mar da Arábia), porquanto a terra aqui faz uma muito grande enseada e estreita, segundo nós achámos notícia, há muitas cidades de cristãos e mouros e uma cidade que se chama Cambaia e seiscentas ilhas sabidas e onde está o mar Ruivo e a casa de Meca".
Quem: Os marinheiros da frota de Vasco da gama
Que: Navegaram em leste
Onde: Mar da Arábia
Quando: Terça-feira, 24 de Abril de 1498
Nesta notícia, mais uma vez objectiva e sucinta, Álvaro Velho faz referência ao rumo tomado pelos navios de Vasco da Gama quando saíram de Melinde. Descreve ainda (achámos notícia, sic.) o que lhe foi noticiado pelo piloto árabe cedido pelo rei de Melinde, o presumível Ahmad Ibn Mãjil, bom conhecedor daquelas paragens.

Se através da análise do manuscrito de Álvaro Velho surge lícito, como procurámos demonstrar, que o referido documento seja considerado o arquético do jornalismo moderno, uma outra correlação se pode estabelecer. A de ter sido o notável documento substrato de um dos maiores monumentos literários da história da humanidade: os Lusíadas. 

Esta forte intuição poderá ser consubstanciada pelo facto de ter Camões frequentado as escolas menores do convento de Santa Cruz, de que seu tio D. Bento de Camões era cancelário da Universidade. Aí, poderá ter tido, tal como outros letrados, a possibilidade de consultar o manuscrito de Álvaro Velho, testemunha participativa da épica viagem de Vasco da Gama.

Esta teoria é defendida com notável brilho por José Caro Proença no seu livro V "Encobrimento nos descobrimentos – Poetização da Viagem de Vasco da Gama à Índia segundo o manuscrito de Álvaro Velho do Barreiro" onde o autor nos propõe uma "adequação semiológica entre os Lusíadas (império dos significantes – principalmente, segundo a edição de Manuel Paulo Ramos) e o entendimento da leitura comparada com o Ms. Álvaro Velho do Barreiro (corpus – território de significados) " (em Memória explicativa e justificativa pIX).

Depois de quinhentos anos o manuscrito de Álvaro Velho do Barreiro, continua imbuído ao mais alto grau de carácter de actualidade e estímulo constituindo marco fundamental na História da Literatura Portuguesa.


Bibliografia
ALBUQUERQUE, Luís de " Relação da Viagem de Vasco da Gama – Álvaro Velho", introdução e notas de Luís de Albuquerque, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Marítimos Portugueses – Ministério da Educação, Lisboa 1989.
CARVALHO, Joaquim Barradas de "A la recherche de la specificite de la renaissance portugaise" Fundação Calouste Gulbenkian, Paris, 1983
SEIXO, Maria Alzira "Poéticas da viagem na literatura", Edições Cosmos, Lisboa, 1998
CRISTOVÃO, Fernando "Condicionamentos culturais da Literatura de Viagens", Edições Cosmos, Lisboa, 1999
BOUCHON, Geneviéve "Vasco da Gama", Lisboa, TerraMar, 1998
SARAIVA, António José ; LOPES, Oscar "História da Literatura Portuguesa", Porto Editora, Limitada, 1976
PROENÇA, José Caro "Encobrimentos nos Descobrimentos" – Livro II, Câmara Municipal do Barreiro,1998
PROENÇA, José Caro "Encobrimentos nos Descobrimentos" – Livro V, Câmara Municipal do Barreiro, 1996
BOND, F. Fraser "Introdução ao jornalismo: uma análise do quarto poder em todas as suas formas", AGIR, Rio de Janeiro, 1962
ARAÚJO, Silva "Vamos falar de jornalismo", Direcção Geral da Comunicação Social, Lisboa, 1988


---------


Comunicação apresentada no VI Congresso da Associação Internacional de Lusitanistas,  Rio de Janeiro (8-13 de Agosto de 2001), e publicado nas respectivas Actas. 

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

"O CÃO SEM PLUMAS", João Cabral de Melo Neto - Soares Teixeira



(I-Paisagem do Capibaribe)



(II-Paisagem do Capibaribe)



(III-Fábula do Capibaribe)
 



(IV-Discurso do Capibaribe)
 



Poema completo e análise da Obra:
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/12.135/4694