No cântico de uma bola de sabão
vai a borboleta que regressou da
imortalidade
o reflexo do lago que descobre ser
lunar
a rocha líquida no centro da ilha
sem nome
o potro acabado de nascer
ainda molhado de dia anterior ao
dia
quase sem se aguentar em pé
sem formas a povoarem-lhe os olhos
e vai também o primeiro olhar de
todas as mães
para a tenra continuidade da sua
matéria
só a promessa das portas
transparentes
consegue escutar esse cântico
tão liso e vasto como uma película
de sonho
sobre a superfície de uma concha
sem princípio
leve
manhã de verão sem começo
respiração de pássaro que não se
cansa de azul
leve
infância na praia da memória
Soares Teixeira – 04-09-2014
(© todos os direitos reservados)