É sempre bom um dia de sol
inesperado; o ar recupera a sua vontade de nos tornar leves e nós recuperamos a
vontade de ser seiva dos instantes. É sempre bom sentir a inesperada face de um
azul de início e deixar olhares redondos nas coisas simples, que mostram a sua
nudez a um sol de Outono que veio de visita. Nesses dias – porque são dias
inesperados - os braços mostram a sua condição de pássaros e as pernas a sua
vocação musical. É bom caminhar assim, de braço dado com a claridade em que
ficamos. Já há folhas a cair das árvores; apanhamo-las com o olhar e fazemo-las
obreiras do pensamento. Uma curva, uma pirueta, uma linha recta, uma espiral,
agora uma breve brisa e uma ascensão, finalmente a viagem termina e a folha
fica tapete à porta do instante. Nesses dias de sol a surpreender as pálpebras
apetece não apetecer nada, porque ao sol lhe apeteceu fazer tudo o que nos
apeteceria em nós fazer: brilhar inesperadamente.
Soares Teixeira – 07-10-2013
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