sábado, 5 de outubro de 2013

"MEU TEJO" - Soares Teixeira








Tejo 
és feliz
corres pelo meu país

Tejo
meu rio
de distâncias a começar
Tejo
meu rio
de alma a sonhar
minha alma
de sonho a navegar
Tejo
meu rio
de barcos a beijar o luar
de barcos de proa solar
de barcos sem pressa nem vagar
de barcos a cantar
Tejo
que abraças
a cintura das manhãs
como se elas fossem
as tuas cortesãs
Tejo
que guardo
sempre
na algibeira do olhar

Tejo
como te invejo
beijas Lisboa que nasceu para o mar


Soares Teixeira – 05-10-2013
(© todos os direitos reservados)

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

"ACONTECEU" - Soares Teixeira








Habituámo-nos à planície do nosso olhar
e assim caminhámos
paralelos à luz de onde íamos amanhecendo
até que um dia os pássaros beberam
todos os nossos instantes
e as nossas horas caíram tão subitamente
que até o passado nos surgiu como uma taça feita de erro

Agora somos papel de parede descolado
ambos o sabemos
mas nenhum de nós tem coragem de deixar as paredes nuas
e depois
como iríamos viver a nossa separação?



Soares Teixeira – 03-10-2013
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

"NO CONVÉS DA SOLIDÃO" - Soares Teixeira








Magoa
esta distância
com olhos de mar
este crescer de ondas
de altas proas
estas facas de vento
a cortar o rosto

Mas pior é o Homem
Que dizer desse oceano
sempre atormentado
que em si esconde
os ácidos infernos
da inveja e da traição?
Mágoa!



Soares Teixeira – 02-10-2013
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

"PORTUGAL" - Soares Teixeira








Silenciei o gesto com que me assombrei
Diante de mim o mar
como se fosse eu próprio aquela imensidão

Sentei-me numa rocha
e os meu cabelos partiram com o olhar
com eles foram as minhas mãos os meus braços
os meus pés as minhas pernas
os meus ombros e o meu peito
por fim foi a cabeça
ficou a boca      
sílaba a sílaba a percorrer futuro



Soares Teixeira – 30-09-2013
(© todos os direitos reservados)

sábado, 28 de setembro de 2013

"SABES ROSA..." - Soares Teixeira








Sabes rosa…
na tua presença
sinto-me um amanhã que fui
e um passado por acontecer

Estou nas ancas das sereias
nas ogivas de catedrais sem nome
nas crinas de um potro lunar
nos saltos de uma rã sideral
estou também na taça que não ergo
a esta manhã encharcada de luz
e na colmeia de onde não retiro
o mel deste meu instante

És tu rosa
plena e serena
que ao me observares me fazes sentir
este vinho a brotar da pedra imaginária
És tu rosa
meiga e mística
que celebras a flor que em mim despertas
E eu, rosa
fico a roda imóvel em que me transformas



Soares Teixeira – 28-09-2013
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 24 de setembro de 2013

"E TODOS ARQUEÁMOS OS NOSSOS CAULES" (a António Ramos Rosa) - Soares Teixeira







E todos arqueámos os nossos caules
quando soubemos que o poeta tinha morrido
e em silêncio os ventos e os búzios
solidários e tristes
encostaram as cabeças ao nosso abandono
foi então que o pássaro da palavra
sobrevoou a pausa em que ficámos
e todas as nossas pétalas de girassóis do além
se ergueram na direcção do astro
do nosso contentamento
porque na sua luz se podia ler:
“Estou vivo e escrevo sol”


Soares Teixeira – 24-09-2013
(© todos os direitos reservados)