(Imagem retirada da Interet - neurónios)
Digo-te, ilha
Sou das palavras que me abrem as pálpebras
Sou da música que me humedece os lábios
Sou da liberdade que me estende os braços
E estou em todos os caprichos das árvores
Sou dos dedos do incrível
Sou de todas as cores que têm de ser ditas
Sou da intimidade do espanto
E estou em todos os ângulos com que o mar olha as rochas
Pertenço a um promontório pouco nítido
Pertenço ao mistério de uma gruta lendária
Pertenço a um mapa de rotas imprecisas
Ilha sempre por descobrir
que atravessas o azul onde sou frontal aos dias
Ilha cercada de caminhos e segredos
que emerges da minha inquietação
Ilha de instantes libertos do tempo
que partilhas o mar dos meus sonhos
Digo-te, ilha
Sou do mar sou das espigas
Sou das montanhas sou dos mitos
Sou dos abismos sou dos pinhais
Sou dos astros e das formigas
Sou dos pátios sou dos gritos
Sou das feras e das cantigas
Sou o recado que transporto nos pulsos do meu amanhã
Sou o jardim da minha carne a receber o alvoroço das viagens
Sou a distância de que é feito o navio do deslumbramento
Ilha que emerges
da minha aliança com o horizonte
Ilha que respiras
ao ritmo do meu peito
Ilha que sou eu
a rolar dentro de mim
nesta vida que me aconteceu
Digo-te, ilha
Sou a dança com que te celebro e o cântico que te responde
Sou as sílabas e o vento com que desenhas a minha forma
Sou a criança de unidade neste mundo que vamos sendo
Soares Teixeira – 27-07-2013
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