Quase noite
O gato aproximou-se
sentou-se sobre as patas de trás
lambeu uma pata da frente
colocou a cauda em volta do corpo
e olhou-me fixamente
Senti-me intimidado
trespassado
e decidido enfrentei-o
olhos nos olhos
De súbito
silenciosamente o gato pulou
para cima da Lua
e todo o universo entrou nas suas pupilas
eu também
Confuso espanto de viagens improváveis
antiquíssimas luzes de brilhos sem orla
longos vazios de onde o tempo emerge e submerge
inviolado mistério de estranhas combinações
Colocam-me a mão no braço
volto-me com músculos e olhar de felino
fui rápido e conciso no meu silêncio
e regresso ao outro gato
desaparecera
O instinto mandou-me olhar para a Lua
sorri
e deixo-me escorregar
para dentro de mim mesmo
De novo humano
bebi outro golo de café
noite
Soares Teixeira – 02-05-2013
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