domingo, 5 de maio de 2013

"LIBERDADE" - Soares Teixeira










Ah…
respirar o cheiro a lavado da palavra
com ela escrever o mundo na alma
com ela escrever a alma no mundo
Ah…
mergulhar as mãos na palavra
com ela baptizar o pensamento
e nele navegar
com ela renovar o horizonte
e dele renascer
Ah…
tactear o caminho da palavra
ser dedos que se confundem com os lábios
ser lábios que se confundem com os dedos
e beijar a criança que existe dentro da palavra
Ah…
entrar com a transparência do corpo dentro da palavra
e nele soltar pássaros em voo desabrido
e com eles ser romance exposto à luz
e dela receber a desordem soprada pelo tempo
Ah…
a palavra que respira em cada colina do instante
a palavra que mostra o gesto a nascer do lugar
a palavra que habita o orvalho do silêncio
a palavra que gosta de sentir o sol no pátio da vontade
Ah…
tantas palavras
a florir à volta da cintura
de todas escolho uma
a palavra mãe de toda a palavra futura
Ah…
liberdade


Soares Teixeira – 01-05-2013 - 23:48
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 1 de maio de 2013

segunda-feira, 29 de abril de 2013

"MAIS UMA VEZ" - Soares Teixeira




                                                           Fotografia de Brad Wagner




Mais uma vez me encontrei
comigo mesmo frente a frente
eu e o outro como duas colunas
unidas pelo arco da palavra
o mesmo traço uno e múltiplo
na secreta curva que nasce
da distância em que me recriei

Mais uma vez aconteceu
plantei uma árvore no mar
e mergulhei nas suas raízes
até ao fundo de mim mesmo
onde jovens e ancestrais
estão os tremendos vulcões
que afastam secretos continentes

Mais uma vez ninguém viu
ninguém pressentiu
mas com um imenso brado
expeli lava e cinza
e afastei a pele do peito
para que no meio do meu oceano
palavras pudessem criar
a ilha poema


Soares Teixeira – 26-02-2013
(© todos os direitos reservados)

sábado, 27 de abril de 2013

quinta-feira, 25 de abril de 2013

"MEU AMIGO" - Soares Teixeira








Meu amigo
ainda que estejas
com a alma naufragada
sonha
pode ser que renasças
de tanto sonhar
ainda que estejas
com a vontade debaixo de uma rocha
ergue-te
pode ser que levantes
a pedra fundadora da tua liberdade
ainda que estejas
com a palavra no labirinto do silêncio
fala
pode ser que os teus lábios
te empurrem para dias sem névoa
Meu amigo
vai à lonjura da tua sombra
e observa o extremo da corrente
que tem mantém dócil
e se afunda no lago
do teu sangue de alma
aí verás feras humanas
a saciarem-se com a tua existência
vai depois ao instante
em que caíste
nos dentes do medo
e lá descobrirás uma mão que te chama
a tua mão    tu mesmo    a tua razão
Meu amigo
ainda que a mentira e a traição
te arrastem para a praça pública
para que sejas destroço
aos olhos de todos
não desistas
canta
e resiste cantando
é o pior que lhes podes fazer



Soares Teixeira – 25-04-2013
(© todos os direitos reservados)

domingo, 21 de abril de 2013

"SOLIDÃO" - Soares Teixeira







Há noites
em que a respiração do silêncio
é mais intensa
pressentem-se nas esquinas
cavalos inquietos de frio e névoa
que soltam mudos relinchos de ausência
sob a luz difusa dos candeeiros
das ruas desertas
e nós ali
tão próximos do vazio
a sentir o martelar das têmporas
a cada passo que nos sai dos pés

 isto pode acontecer
a qualquer hora
ou em qualquer lugar

é assim a solidão


Soares Teixeira – 26-02-2013
(© todos os direitos reservados)

sábado, 20 de abril de 2013