sexta-feira, 18 de novembro de 2011

sábado, 12 de novembro de 2011

DE TARDE, CESÁRIO VERDE

                                                           

                                                               CESÁRIO VERDE
                                                                       De Tarde


                             

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

"NAVEGAR" - Soares Teixeira


Navegar
ser o único marinheiro do teu corpo
e nessa viagem
ser peixe
a deslizar sobre a pele de outro peixe
ser alga
que se junta a outra alga
ser raio de sol
que se junta a outro raio de sol
à mesma profundidade
entre os mesmos corais
entre os mesmos fantásticos
murmúrios iniciais
entre o mesmo segredo
entre a mesma ondulação
plenos e sem medo


Soares Teixeira

domingo, 6 de novembro de 2011

"NAS RUAS DA NOSSA CIDADE" - Soares Teixeira


Nas ruas da nossa cidade
existem pássaros que nos levam de um para outro sonho
existem flores que sorriem para os nossos sorrisos
existem raios de sol que embalam a nossa leveza
Nas ruas da nossa cidade não existem estradas passeios
semáforos sinais de trânsito ou passadeiras de peões
Nas ruas da nossa cidade não existem prédios nem esquinas
nem vidro nem ferro nem cimento
Nas ruas da nossa cidade as coisas são matéria por acontecer
As ruas da nossa cidade nascem dos nossos beijos
As ruas da nossa cidade são as palavras de onde nos debruçamos
As ruas da nossa cidade são o imenso poder de não termos fim
neste tumulto de seda com que nos abraçamos
As ruas da nossa cidade são o irreprimível horizonte que transborda
da grande maravilha que é sermos um excesso sempre aquém do desejo
As ruas da nossa cidade trazem em si segredos revelados
pelo ritmo de corações quentes a pulsar no nosso olhar
As ruas da nossa cidade são o vento dos nossos membros
As ruas da nossa cidade são a respiração dos nossos gestos
As ruas da nossa cidade são o absoluto dos nossos corpos
As ruas da nossa cidade são de algodão
E as almofadas dormem no chão


Soares Teixeira

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

"VESTI-TE COM UMA GOTA DE ORVALHO" - Soares Teixeira


Vesti-te com uma gota de orvalho
peguei-te na mão
e dançámos descalços
sobre a areia de uma praia
que um beijo fez só nossa
os primeiros olhares da aurora
tocaram-nos
num ângulo cúmplice
lançavas a cabeça para trás
e rias
o mar também
levando com ele
tudo o que não fosse
o luar
de que ainda éramos feitos


Soares Teixeira

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

"À BEIRA MAR" - Soares Teixeira


Aqui
perante este horizonte onde me alongo
dentro desta distância que acontece em mim
sou um crente aos pés do sonho
sou uma pálpebra sem fim
sou o absoluto

no céu o azul recebe o vermelho
nas asas das gaivotas nadam peixes
é de espuma a sabedoria do mar
a praia faz companhia aos barcos
o sol aninha-se nas águas
respiro a anunciação de que é feito o ar
bebo êxtase
não quero outro paraíso

aqui
neste agora tão leve
recebo o primeiro começo de uma divindade
sou um grão de areia com uma alavanca no peito
sou um átomo com o infinito no pensamento

aqui
ao abrigo deste momento
sou uma nuvem onde me deito
começo onde estou e acabo na eternidade
não quero outro paraíso


Soares Teixeira

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

"REGRESSO" - Soares Teixeira


Um violoncelo desliza
pelo vasto corredor de uma casa antiga vazia
à sua passagem as salas suspiram de saudade
e a entranhada mágoa das paredes espreita
por cima das molduras dos retratos
de gente que já foi claridade
Um vento fresco de manhã inaugural
sopra súbito sobre aquele grande livro fechado
e uma janela abre-se
e mil pássaros de luz serpenteiam
pelos corredores pelas escadas e pelas salas
da grande casa tombada no musgo do tempo
uma jovem de tranças louras
solta gargalhadas cristalinas
e uma alegria exilada saúda os retratos
Como um fiel namorado
o violoncelo desliza
para os braços da adolescente
e Bach irrompe como uma primavera
Lá fora o velho carvalho reúne os pássaros
e juntos observam o portão do jardim
que depois de tantos anos fechado
se abre agora
em movimento lento quase ilusório

Ela voltou dizem as aves
Está igual diz a árvore fiel
Tantos anos diz comovida a anciã


Soares Teixeira