terça-feira, 19 de novembro de 2024

ANGÉLIQUE KIDJO - SOARES TEIXEIRA

 

ANGÉLIQUE KIDJO - SOARES TEIXEIRA


ANGÉLIQUE KIDJO
 
At an Angélique Kidjo concert
I made myself music
I made myself Africa
 
My arms and legs
picked up memories that weren't mine
or maybe they were before I existed
 
My hips screamed rhythm
my feet discovered another ground
 
With gestures beyond geographies
my neck left the hours
and my chin pointed to savannahs
 
I was from the sign of dance
and Mother Nature's homeland
 
Lightning lit up the skies
of many hearts
because there were many
who wanted to
disquiet, reinvent
to be
a smile with bare legs
to be
a look with open hands
to be
an arrow creating a sky of freedom
 
Cups made of temples and heels
gave joy
to drink to the spaces
and there was so much rain
that a new world was born


Soares Teixeira


--


ANGÉLIQUE KIDJO
 
 
Num concerto de Angélique Kidjo
fiz-me música
fiz-me África
 
Os meus braços e as minhas pernas
foram buscar memórias que não eram minhas
ou talvez fossem antes de eu existir
 
As minhas ancas gritaram ritmo
os meus pés descobriram outro chão
 
Com gestos para lá das geografias
o meu pescoço saiu das horas
e o queixo apontou para savanas
 
Fui do signo da dança
e da pátria da Mãe Natureza
 
Relâmpagos iluminaram os céus
de muitos corações
porque foram muitos
os que se quiseram
desinquietar, reinventar
ser
um sorriso com pernas nuas
ser
um olhar de mãos abertas
ser
uma seta a criar céu de liberdade
 
Copos feitos de têmporas e calcanhares
deram alegria
a beber aos espaços
e foi tanta a chuva
que um novo mundo nasceu
 
 
Soares Teixeira




domingo, 3 de novembro de 2024

"NILO" - SOARES TEIXEIRA

 



NILO
 
 
Fluvial
a palavra corre
e irriga
a terra de onde cresce
o olhar
para a mensagem do pássaro
que ensina horizonte
 
Erguem-se linhas
unem-se pontos
preenchem-se espaços
surgem geometrias
e no brilho da perfeição
vamos
pelas mãos do tempo
ao encontro do mundo
que é ovo cósmico
 
Como papiros oscilando ao vento
vemos
que o que foi
habita o que é
e saúda o que será
 
Da base da pirâmide
aprendendo crescemos
e crescendo somos vértice
que se ilumina
para que a voz dos astros
se junte ao cântico
do sol em que nos tornámos
 
Corre Nilo
voa
e leva-nos na barca da descoberta
ao encontro do mar eterno
 
 
Soares Teixeira 
(© todos os direitos reservados)

(dedicado ao Professor José das Candeias Sales)


JOSÉ DAS CANDEIAS SALES

Soares Teixeira e o Professor José das Candeias Sales por ocasião de uma das suas palestras (11-10-2024) integradas na exposição TA-MERI do Pintor Ben Helmink, com curadoria de Olga Sousa e que decorreu no Centro Ismaili de Lisboa.



sábado, 17 de agosto de 2024

MAÇÃ - SOARES TEIXEIRA

 

MAÇÃ - SOARES TEIXEIRA



MAÇÃ

 
Ergue-se das águas do Tejo
uma maçã de horizonte.
Numa turbulência de olhar,
estendo os braços
e apanho o fruto da árvore do tempo.
 
Uma dentada, depois outra,
e já sou vento
a soprar sobre os dias em que fui
navegante,
proa de chegada e de partida.
 
Tejo
meu rio de respiração milenar,
tantas vezes de ti me despedi,
tantas vezes este renascer
nas tuas veias.
 
 
Soares Teixeira 
(© todos os direitos reservados)




quinta-feira, 8 de agosto de 2024

ALMA MINHA GENTIL QUE TE PARTISTE - LUÍS DE CAMÕES - SOARES TEIXEIRA

 



ALMA MINHA GENTIL, QUE TE PARTISTE


Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Algũa cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

LUÍS DE CAMÕES




terça-feira, 23 de julho de 2024

MARIA JOÃO PIRES - 80 - Soares Teixeira

 




MARIA JOÃO PIRES  - 80
 
80 poemas
80 mãos que voam
80 flores que dançam
em música saúdam Maria,
- João Pires, acrescenta
um pardal saltitando,
e uma gota de orvalho sorri
 
A sair do pêssego da sua música
Mozart surge,
estende a mão,
e o pardal poisa-lhe nos dedos
 
Um rio faz-se piano
e, em silêncio,
todos escutam Maria
- Parece acabada de nascer,
murmura uma árvore
- João Pires, diz o pardal,
que voa para o teclado
levando Mozart consigo
 
80 poemas
80 mãos que voam
80 flores que dançam
canta o mundo,
com voz
de gota de orvalho
 
 
Soares Teixeira – 23 de Julho de 2024
- nos 80 anos de Maria João Pires-
(© todos os direitos reservados)



quinta-feira, 18 de julho de 2024

APENAS MIÚDOS - PATTI SMITH - SOARES TEIXEIRA

 

Leitura expressiva de parte do Primeiro Capítulo do livro "APENAS MIÚDOS", de Patti Smith





'APENAS MIÚDOS', de Patti Smith, é o fascinante retrato de uma época e uma tocante história de dois jovens - Patti Smith e Robert Mapplethorpe - com grande cumplicidade de sonhos e lutas.


sábado, 29 de junho de 2024

O PAI - ADÉLIA PRADO - SOARES TEIXEIRA



O PAI

Deus não fala comigo
nem uma palavrinha das que sussurra aos santos.
Sabe que tenho medo e, se o fizesse,
como um aborígine coberto de amuletos
sacrificaria aos estalidos da mata;
não me tirasse a vida um tal terror.
A seus afagos não sei como agradecer,
beija-flor que entra na tenda,
flor que sob meus olhos desabrocha,
três rolinhas imóveis sobre o muro
e uma alegria súbita,
gozo no espírito estremecendo a carne.
Mesmo depois de velha me trata como filhinha.
De tempestades, só mostra o começo e o fim.

Adélia Prado

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Biografia de Adélia Prado:
Adélia Luzia Prado de Freitas (Divinópolis, 13 de dezembro de 1935) é uma poetisa, professora, filósofa, romancista e contista, ligada ao Modernismo. Considerada a maior poetisa viva do Brasil.
Sua obra retrata o cotidiano com perplexidade e encanto, norteados pela fé cristã e permeados pelo aspecto lúdico, uma das características de seu estilo único. Em 1976, enviou o manuscrito de Bagagem para Affonso Romano de Sant'Anna, que assinava uma coluna de crítica literária no Jornal do Brasil. Admirado, acabou por repassar os manuscritos a Carlos Drummond de Andrade, que incentivou a publicação do livro pela Editora Imago em artigo do mesmo periódico.
Professora por formação, ela exerceu o magistério durante 24 anos, até que a carreira de escritora tornou-se a atividade central. Em termos de literatura brasileira, o surgimento da escritora representou a revalorização do feminino nas letras e da mulher como ser pensante, tendo-se em conta que Adélia incorpora os papéis de intelectual e de mãe, esposa e dona-de-casa.
Em 2024, tornou-se a terceira escritora brasileira (e primeira escritora mineira) a vencer o prêmio Camões em 35 anos.

Fonte dos elementos biográficos de Adélia Prado:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ad%C3%A9lia_Prado