sábado, 28 de dezembro de 2024

TODOS - SOARES TEIXEIRA

 



TODOS

 
Olhando os seus perfis
vemos proas que são horizonte,
e de frente
vemos pêssegos de esperança.
Das mãos nasce-lhes poesia
enlaçada com múltiplas ferramentas
 
Se observarmos bem
reparamos que os seus ombros são pombas,
se nos detivermos um pouco
sentimos nos seus peitos o crescer de vinhas,
se pronunciarmos os seus nomes
diremos terra e céu e chuva e oceano
 
Se uma rua de pensamento nos convidar
entremos, respeitosamente,
ao fundo está uma coluna
e nela gravada uma palavra
com a luz dos seus corações palpitantes
e a palavra é: TODOS

 
 
Soares Teixeira


domingo, 1 de dezembro de 2024

DECLARAÇÃO DE AMOR - ANTÓNIO GEDEÃO - SOARES TEIXEIRA

 



 


Declaração de Amor

Excita-me a tua presença, ó Árvore – ó Árvores todas!
Desejo-te (desejo-vos) como se fosses Carne, e eu Desejo.
Como se eu fosse o vento que preside às tuas bodas,
e te cicia em redor, e te fecunda num aliciante beijo.

Ponho os olhos em ti e entretenho-me a pensar que sou mãos,
todo mãos que te envolvem o tronco e te sacodem convulsivamente.
Requebras-te com volúpia, e os teus emaranhados cabelos louçãos
fustigam o ar como látegos, com toda a força que este amor me consente.

Ó Árvore minha débil! Ó prazer dos meus olhos extáticos!
Ó filtro da luz do Sol! Ó refresco dos sedentos!
Destila nos meus lábios as gotas dos teus ésteres aromáticos,
unge a minha epiderme com teus macios unguentos.

Desnuda-me a tua intimidade, ó Árvore! Diz-me a que segredos recorres
para te desenrolares em flores e em frutos num cíclico desvario.
Porque é que tudo morre à tua volta e tu não morres,
e aceitas sempre o Amor com renovado cio.

Inicia-me nos teus mistérios, ó feiticeira dos cabelos verdes.
Ensina-me a transformar um raio de Sol em suculenta carnadura,
e nesses perfumes subtis que a toda a hora perdes,
prolongando o teu ser no ar que te emoldura.

É através de ti, ó Árvore, que celebro os esponsais entre mim e a Natureza.
É através de ti que bebo a nuvem fresca e mordo a terra ardente.
É de ti que recebo as leis do Amor e da Beleza.
Amo-te, ó Árvore, apaixonadamente!

António Gedeão (1906-1997), in “Máquina de fogo”, 1961


domingo, 24 de novembro de 2024

DECLARAÇÃO DE SOARES TEIXEIRA - DECLARATION FROM SOARES TEIXEIRA

 

A MINHA ACTIVIDADE LITERÁRIA E ARTÍSTICA É LIVRE, AUTÓNOMA E INDEPENDENTE !

MY LITERARY AND ARTISTIC ACTIVITY IS FREE, AUTONOMOUS AND INDEPENDENT !


SOARES TEIXEIRA
                                                                          Soares Teixeira



terça-feira, 19 de novembro de 2024

ANGÉLIQUE KIDJO - SOARES TEIXEIRA

 

ANGÉLIQUE KIDJO - SOARES TEIXEIRA


ANGÉLIQUE KIDJO
 
At an Angélique Kidjo concert
I made myself music
I made myself Africa
 
My arms and legs
picked up memories that weren't mine
or maybe they were before I existed
 
My hips screamed rhythm
my feet discovered another ground
 
With gestures beyond geographies
my neck left the hours
and my chin pointed to savannahs
 
I was from the sign of dance
and Mother Nature's homeland
 
Lightning lit up the skies
of many hearts
because there were many
who wanted to
disquiet, reinvent
to be
a smile with bare legs
to be
a look with open hands
to be
an arrow creating a sky of freedom
 
Cups made of temples and heels
gave joy
to drink to the spaces
and there was so much rain
that a new world was born


Soares Teixeira


--


ANGÉLIQUE KIDJO
 
 
Num concerto de Angélique Kidjo
fiz-me música
fiz-me África
 
Os meus braços e as minhas pernas
foram buscar memórias que não eram minhas
ou talvez fossem antes de eu existir
 
As minhas ancas gritaram ritmo
os meus pés descobriram outro chão
 
Com gestos para lá das geografias
o meu pescoço saiu das horas
e o queixo apontou para savanas
 
Fui do signo da dança
e da pátria da Mãe Natureza
 
Relâmpagos iluminaram os céus
de muitos corações
porque foram muitos
os que se quiseram
desinquietar, reinventar
ser
um sorriso com pernas nuas
ser
um olhar de mãos abertas
ser
uma seta a criar céu de liberdade
 
Copos feitos de têmporas e calcanhares
deram alegria
a beber aos espaços
e foi tanta a chuva
que um novo mundo nasceu
 
 
Soares Teixeira




domingo, 3 de novembro de 2024

"NILO" - SOARES TEIXEIRA

 



NILO
 
 
Fluvial
a palavra corre
e irriga
a terra de onde cresce
o olhar
para a mensagem do pássaro
que ensina horizonte
 
Erguem-se linhas
unem-se pontos
preenchem-se espaços
surgem geometrias
e no brilho da perfeição
vamos
pelas mãos do tempo
ao encontro do mundo
que é ovo cósmico
 
Como papiros oscilando ao vento
vemos
que o que foi
habita o que é
e saúda o que será
 
Da base da pirâmide
aprendendo crescemos
e crescendo somos vértice
que se ilumina
para que a voz dos astros
se junte ao cântico
do sol em que nos tornámos
 
Corre Nilo
voa
e leva-nos na barca da descoberta
ao encontro do mar eterno
 
 
Soares Teixeira 
(© todos os direitos reservados)

(dedicado ao Professor José das Candeias Sales)


JOSÉ DAS CANDEIAS SALES

Soares Teixeira e o Professor José das Candeias Sales por ocasião de uma das suas palestras (11-10-2024) integradas na exposição TA-MERI do Pintor Ben Helmink, com curadoria de Olga Sousa e que decorreu no Centro Ismaili de Lisboa.



sábado, 17 de agosto de 2024

MAÇÃ - SOARES TEIXEIRA

 

MAÇÃ - SOARES TEIXEIRA



MAÇÃ

 
Ergue-se das águas do Tejo
uma maçã de horizonte.
Numa turbulência de olhar,
estendo os braços
e apanho o fruto da árvore do tempo.
 
Uma dentada, depois outra,
e já sou vento
a soprar sobre os dias em que fui
navegante,
proa de chegada e de partida.
 
Tejo
meu rio de respiração milenar,
tantas vezes de ti me despedi,
tantas vezes este renascer
nas tuas veias.
 
 
Soares Teixeira 
(© todos os direitos reservados)




quinta-feira, 8 de agosto de 2024

ALMA MINHA GENTIL QUE TE PARTISTE - LUÍS DE CAMÕES - SOARES TEIXEIRA

 



ALMA MINHA GENTIL, QUE TE PARTISTE


Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Algũa cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

LUÍS DE CAMÕES