segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

"VIVER" - Soares Teixeira



Viver:
maré alta
maré baixa
um gorjeio de mistério
- penso -
enquanto bebo
um púcaro de silêncio fresco
e como
um pensamento
recheado de além mar


Soares Teixeira – 05-12-2016
(© todos os direitos reservados)

domingo, 4 de dezembro de 2016

"EM TERTÙLIA", SOARES TEIXEIRA



Ontem, mais uma fantástica tertúlia no mítico café lisboeta "Martinho da Arcada", onde Fernando Pessoa escreveu muitos dos seus poemas. O vídeo acima reporta-se a uma destas tertúlias, a de 2011.

E numa tertúlia, onde a partilha da Palavra e o fraterno convívio são a melhor das ementas, eu sou assim:



EM TERTÚLIA


Retiro da árvore
a cereja da palavra
e como-a
lentamente
com absoluto prazer
Depois, no extremo da carne,
sou aquele que voa em alma
pássaro a possuir o espaço
promontório aceso
ímpeto de azul
cometa a viajar
princípio intacto
Então destapo os ombros
e, só atmosfera,
sou chuva de sílabas
na clareira
dos que celebram
a festa do poema
Evoé!
Ofereço-vos, deuses,
a minha alegria selvagem
em todas as janelas,
da voz e do gesto



Soares Teixeira – 04-12-2016
(© todos os direitos reservados)


domingo, 27 de novembro de 2016

"OFERTA" - Soares Teixeira



Acontece por vezes
que se caminho alheado
de tudo o que não seja
a minha paisagem de deveres
próprios de roda dentada
do mecanismo social
e o acaso me faz reparar
numa flor com que me cruzo
descubro
que ela me pode estar a chamar
que pode haver surpresa nos meus passos
e abrando o movimento
das engrenagens daquilo que penso valer a pena
e fico com a convicção de que também vale a pena
saudar
sorridentes balões coloridos,
caravelas nos mares da Lua,
baloiços a cintilar nos astros,
castelos feitos de manhãs e asas,
árvores em danças de roda,
cânticos na superfície dos lagos
como me acontecia quando eu era menino
e a minha pátria eram horas cheias de luz
e mundos dentro de flores

nesses momentos
há não sei que veleiro em mim
que me leva
leva…
e eu vou
e deixo-me em liberdade
largo esse pássaro em que me transformo
e deixo-me voar
desde a raiz da flor
até à alegria das pétalas

e vou mais longe ainda
e faço adeus a cometas
que se julgam atrasados
para a grande festa do infinito

e isso é bom
são boas estas ofertas
que recebo de mim mesmo
é com elas que adoço o café
não uso açucar



Soares Teixeira – 27-11-2016
(© todos os direitos reservados)

sábado, 26 de novembro de 2016

"A ESTRADA" - Soares Teixeira



Todo o mistério do infinito
no finito corpo do Sol
e eu
caverna e montanha em mim
vestido de ecos
do passado e do futuro
aqui
na estrada solitária
com os meus mil braços de criança
erguidos em taça
a beber e a dar de beber
os meus instantes



Soares Teixeira – 26-11-2016
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 22 de novembro de 2016

22 de NOVEMBRO, DIA DA MÚSICA



Hoje, 22 de Novembro é Dia da Música e Dia de Santa Cecília, Padroeira dos Músicos. Aqui deixo um excerto do filme "Um homem do Ribatejo"´, realizado por Henrique Campos em 1946, onde a Grande Hermínia Silva canta o célebre "Fado da Sina".

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

"CONVITE" - Soares Teixeira



Hoje recebi um convite
que dizia assim:

“Convido-te a sermos viagem
e desassossego nos espaços
e nascente de descoberta

vem ser horizonte nas veias do vento
e atravessar momentos
próximos dos astros

vem ouvir as gaivotas e sentir
nos seus cânticos de renda
o luar de poemas de amor

junta-te à ebriedade de águas
que se alongam em espanto
com ombros de luz viva

vem
ser caravela com casco de fado
e proa de mundo

vem
e a camisa do teu Ser será feita
com o tecido azul da palavra”

Assinado
Rio Tejo

Obviamente aceitei




Soares Teixeira – 21-11-2016
(© todos os direitos reservados)

domingo, 20 de novembro de 2016

"EVASÃO" - Soares Teixeira



Eternamente horizonte
as gaivotas bebem azul
em voos perfeitos
nada perturba a lisura
das toalhas que estendem
sobre a mesa do meu olhar
sento-me
numa cadeira de pensamento
e logo a torno ausente
porque a contemplação
se sobrepõe
a tudo o que em mim é interior
sou outro instante
outro dia parecido com este
mas diferente
outra hora
em que não me esperava encontrar
ou talvez esperasse
no segundo em que nasci
sou um outro que me substituiu
e a minha forma é a de cálice
e a minha substância é luz
assim sentado sou um não-ser
que é celebração
assim ausente sou taça imaterial
que é condição
nem espanto de árvore
nem pórtico de mistério
levo comigo
vou no cortejo das aves
e tudo em mim se resume
ao impossível que já não é
até a cidade da alma fica para trás
O Além, apenas… e tanto…



Soares Teixeira – 20-11-2016
(© todos os direitos reservados)