quinta-feira, 21 de maio de 2015

"ABSOLUTO" - Soares Teixeira





Quando os pássaros
ficam em silêncio de asa
é bom observá-los
lentamente
numa lentidão completa
deixar
que o peso do corpo
seja um segredo do horizonte
que a pele se torne
finíssima respiração dos espaços
e que o gesto
seja aquele que o vento quiser

intimidade
absoluto a viver nas veias
límpida liberdade



Soares Teixeira – 21-05-2015
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 20 de maio de 2015

"ARGILA" - Soares Teixeira




Existe
ainda universo em mim
um rumor de início

existe sim
vive comigo
dentro desta argila de fim

cresço em pensamento
e o fruto
pergunta à árvore

que insuspeita manhã
guardo no rio do Ser?
que entardecer?  

em que sono de luz
dorme a brisa que fui?
a que sonho chegarei?


Soares Teixeira – 20-05-2015
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 19 de maio de 2015

"UVAS" - Soares Teixeira




Frente a frente
sentimos na medula
do olhar cruzado
um cacho de uvas
suspenso sobre a água
de luz eterna

fecharam-se os lábios
de todas as palavras
excepto os das nossas
abertas
em terra fértil
e mar sem onda de dúvida

este é o meu corpo
está pronto para ser a grande porta
entra

este é o meu corpo
está pronto para ser o horizonte da carne
entra

dissemos
em beijo
ao comermos lentamente
as uvas
uma após outra

depois
poema incandescente
entregámo-nos
ao sangue dos astros



Soares Teixeira – 19-05-2015
(© todos os direitos reservados)

domingo, 17 de maio de 2015

"EM BUSCA" - Soares Teixeira





Observar

que no mar
luz viva em leveza
acaricia
a ondulação do olhar

e que as praias, sempre
a atravessar distâncias
formam cardumes em busca
de um pensamento

ir

ausentarmo-nos do lugar
onde somos origem e destino
e entre corais de redenção
sermos peixe no Sol do momento

e sentir

que a espuma que chega
e chia na areia quando se desfaz
entra na praia do peito
para voltar a ser onda

na imensidão



Soares Teixeira – 17-05-2015
(© todos os direitos reservados)

sexta-feira, 15 de maio de 2015

"ENGANO" - Soares Teixeira





Às vezes
há espinhos
nas voz das rosas
e um pequeno descuido
pode fazer sangrar
a mão que se abre do peito

sim
às vezes há espinhos
que se vestem de pétalas
e se perfumam
e são aranhas felizes
na mentira que gostam de ser

às vezes, sim
há rosas que caminham
ao nosso lado
e colocam-nos nas costas
a mão de pétala afável
engano! é espinho cravado!

tantas vezes



Soares Teixeira – 15-05-2015
(© todos os direitos reservados)

quinta-feira, 14 de maio de 2015

"LUTAR" - Soares Teixeira





Pegarmos num fio de luta
e com ele remendarmos
os buracos nas meias do sonho

depois voltarmos a caminhar
e o trabalho fica desfeito
e de novo remendar

ah esta condição
esta cicatriz nunca sarada
aberta até às bandeiras do céu

desistir? não!
a semente persiste
neste horizonte, nosso chão



Soares Teixeira – 14-05-2015
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 13 de maio de 2015

"ÀS VEZES ACONTECE" - Soares Teixeira





Às vezes acontece

tanta gente
e de repente sentirmo-nos sós
e não nos negarmos à solidão
uma espécie de desterro voluntário
não fugir do vazio
nem o deixar fugir
isso seria voltar as costas ao próprio nome
um aceno de cabeça
um apertar de mão
um sorriso aberto
uma palavra de circunstância
mas a clarear em solidão
como quem descobre
que tudo à volta é labirinto

como em passado?
bem, muito obrigado

não se tem deixado ver
pois não

cair nos braços de nós mesmos
e ai ficar
ao mesmo tempo morte e ressurreição

tanta gente
e tudo na curva de uma sombra
a deslizar no tempo

já vai?
vou

Às vezes acontece



Soares Teixeira – 13-05-2015
(© todos os direitos reservados)