quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

"COMER POEMAS" - Soares Teixeira



É bom
comer um poema
(com um fio de música por cima,
ainda melhor)
dar-lhe pequenas dentadas
saboreá-lo devagarinho
com uma respiração lenta
colada à luz de uma porta que se abre
e por onde se entra
Faz bem
alimentarmo-nos com poemas
a poesia é vasodilatadora,
muito boa para a circulação sanguínea
e também melhora a vista
Comam poemas, minha gente
comam
vão ver que é bom
Comam poemas


Soares Teixeira – 11-01-2018
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

"VIAGENS" - Soares Teixeira



Pronunciar pássaro
como se a boca fosse ninho
Pronunciar água
como se os braços fossem água
Pronunciar poema
como se a garganta fosse muito antiga
Depois
convergir para um ponto
algures no tempo
e então divergir
para cada raio de Sol
que completa o mar



Soares Teixeira – 09-01-2018
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

"CONFIANÇA" - Soares Teixeira

Choveu
a terra cheira a berço
delicio-me por saber
que as árvores estão contentes
convido-as para brincarmos juntos
eu, menino
elas, meninas
ei-las que aceitam!
que claridade então se liberta
deste tesouro que ganhamos
ao sermos mistério
que confia no mistério

que bom
esta proximidade
a uma linguagem antiga
esta aliança
tão íntima do absoluto
tão livre para seguir o eco do enigma
um ténue raio de sol
sorri
ele lá saberá porquê…
sorrimos também
- eu e as árvores -
cúmplices naquilo sentimos:
a esperança no canto dos pássaros




Soares Teixeira – 05-01-2018
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

"ANO NOVO" - Soares Teixeira



Vestir o poema
com intenso vagar
passar as mãos pelo tecido
contemplá-lo com prazer
sentir conforto
observar ao espelho
como a palavra
assenta bem no corpo
e no ser
e percorrer as ruas dos instantes
contente
por estrear uma peça de roupa
em dia de Ano Novo
Que bom!


Soares Teixeira – 01-01-2018
(© todos os direitos reservados)

domingo, 31 de dezembro de 2017

"FOI EM VENEZA" - Soares Teixeira



Foi em Veneza
que uma gôndola de luz
nos convidou
para a mais bela das festas

Veludo, volúpia, vertigem
renda, riso, rosa
Arlequim, Colombina

Não murchará jamais
a flor onde permanecemos
e de onde, permanecendo,
nos alongamos

A arte de descer do luar
é  nossa
A arte de esculpir noites
é nossa
A arte de acender origens
é nossa

Foi em Veneza

 
Soares Teixeira – 30-12-2017
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

"CELEBRAÇÃO" - Soares Teixeira



Largo movimento
de duas mãos ancestrais
que no meu peito
de sílaba e céu
abrem de par em par
as portas
ao Sol Invicto

Claridade com que abraço
o menino pinheiro
o menino rio
o menino gaivota
o menino mundo

Solar fulgor
com que em júbilo celebro
a luz fértil
dos cânticos iniciais


Soares Teixeira – 25-12-2017
(© todos os direitos reservados)