segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

"CONFIANÇA" - Soares Teixeira

Choveu
a terra cheira a berço
delicio-me por saber
que as árvores estão contentes
convido-as para brincarmos juntos
eu, menino
elas, meninas
ei-las que aceitam!
que claridade então se liberta
deste tesouro que ganhamos
ao sermos mistério
que confia no mistério

que bom
esta proximidade
a uma linguagem antiga
esta aliança
tão íntima do absoluto
tão livre para seguir o eco do enigma
um ténue raio de sol
sorri
ele lá saberá porquê…
sorrimos também
- eu e as árvores -
cúmplices naquilo sentimos:
a esperança no canto dos pássaros




Soares Teixeira – 05-01-2018
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

"ANO NOVO" - Soares Teixeira



Vestir o poema
com intenso vagar
passar as mãos pelo tecido
contemplá-lo com prazer
sentir conforto
observar ao espelho
como a palavra
assenta bem no corpo
e no ser
e percorrer as ruas dos instantes
contente
por estrear uma peça de roupa
em dia de Ano Novo
Que bom!


Soares Teixeira – 01-01-2018
(© todos os direitos reservados)

domingo, 31 de dezembro de 2017

"FOI EM VENEZA" - Soares Teixeira



Foi em Veneza
que uma gôndola de luz
nos convidou
para a mais bela das festas

Veludo, volúpia, vertigem
renda, riso, rosa
Arlequim, Colombina

Não murchará jamais
a flor onde permanecemos
e de onde, permanecendo,
nos alongamos

A arte de descer do luar
é  nossa
A arte de esculpir noites
é nossa
A arte de acender origens
é nossa

Foi em Veneza

 
Soares Teixeira – 30-12-2017
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

"CELEBRAÇÃO" - Soares Teixeira



Largo movimento
de duas mãos ancestrais
que no meu peito
de sílaba e céu
abrem de par em par
as portas
ao Sol Invicto

Claridade com que abraço
o menino pinheiro
o menino rio
o menino gaivota
o menino mundo

Solar fulgor
com que em júbilo celebro
a luz fértil
dos cânticos iniciais


Soares Teixeira – 25-12-2017
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

"PORTUGALIDADE" - Soares Teixeira


Portugalidade
esta coluna
de onde tantos arcos saem
esta certeza
de onde tantas interrogações nascem
continuamente
em expansão de olhar antigo
que o gesto vai fazendo além
minha epiderme de alma
que não sei
até que mares se adianta
minha tertúlia com as aves
minha dança de roda
de meninos homens
e meninas mulheres
tão felizes por nunca lhes faltar
a vasta praia do sonho


Soares Teixeira – 19-12-2017
(© todos os direitos reservados)




Este poema foi escrito após ter assistido à apresentação, na Livraria Ferin, em Lisboa,  do livro “Rostos da Portugalidade”, de Luís Machado. A Obra consta de cinco entrevistas a cinco personalidades portuguesas (Cruzeiro Seixas, Diogo Freitas do Amaral, Elisabete Matos, Eunice Muñoz, Manuel Alegre), que tiveram lugar este ano no Café Martinho da Arcada. Tive o privilégio de assistir /viver todas essas entrevistas/tertúlias.