quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

"POEMA DE AGRADECIMENTO AOS MEUS SAPATOS" - Soares Teixeira



Os meus sapatos sabem estórias
contadas por estradas, passeios e jardins
pelos meus pés também
e ainda pela manhã onde entro
quando oiço aquele poema
que me faz atirar o sorriso
aos olhares monótonos
sim, porque os meus sapatos não gostam
que eu fique do lado de cá
preferem que eu vá para o lado de lá
para a outra margem da palavra acesa


Soares Teixeira – 05-01-2017
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

"RESISTIR" - Soares Teixeira



Observar os pássaros das coisas
sentir as flores dos instantes
estar no lado azul das palavras...
ainda que o espinho
seja a única verdade
única
e íntima da garganta









Soares Teixeira – 04-01-2016
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

"À MESA" - Soares Teixeira



Ás vezes
- pêndulo abandonado -
perco-me...

em passos de árvore
que sai pela porta do possível
e atravesso planícies
com chão de princípio
Ao longe
sobre uma mesa
está um púcaro
feito de barro e sílaba
Avanço
- desígnio cumprido -
sento-me
e ávidamente bebo
a frescura do estar só
e fico ali
junto de todos
os que comigo têm lavrado os dias
Depois conversamos
alegremente
e os gestos dos nossos ramos
não surpreendem
aqueles que sabem
ser íntimos dos girassóis

Soares Teixeira – 03-01-2017
© (Todos os direitos reservados)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

"NO CABO DA ROCA" - Soares Teixeira



Diligentes
os dedos do olhar
compõem a trança de luz
que flutua no ar

Ondulando horizonte
sou o meu barco
nele levo a Europa
e ofereço-lhe o mar



Soares Teixeira – 02-01-2017
(© todos os direitos reservados)

sábado, 31 de dezembro de 2016

"CHAVE" - Soares Teixeira



Caminhamos
de mão dada com o tempo
continuamente
em viagem
e as pedras olham-nos
e os rios olham-nos
e as árvores olham-nos
e o mar
e o céu
e os pássaros também
até um dia
nada de nós restar
nem uma esperança que foi sol
nem uma praia onde nos vestíamos de horizonte
nem um nome que foi casca de fruto
nada
vivemos o ser sede na garganta dos dias
sede até ao tecto da pergunta e da onda
até um dia…
Continuaremos depois com os dedos entrelaçados
nos dedos de outra viagem?
a pergunta mastiga-se, lentamente
e a resposta está dentro de um copo de cristal
que cintila com um fulgor de princípio
no extenso instante de um pensamento
que agasalha a alma
como brilha a taça
no extremo do braço erguido em falésia
tão bela…
sobre a sua superfície deslizam galáxias
e ventos cósmicos cantam chamamentos
o sangue circula-nos no desejo
apetece beber
e bebemos
essa é a nossa forma de estar no mundo
ser nudez na origem aveludada da claridade
crescer na fechadura do mistério
tentar ser chave
e respirar a página por acontecer



Soares Teixeira – 31-12-2016
(© todos os direitos reservados)

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

"SOPRO DO TEMPO" - Soares Teixeira

Eis-me rodeado de Universo
Cérebro e coração do pensamento
Mistério que me trouxe a este momento
Até estas linhas, até este verso

No grande Cosmos onde estou imerso
Cada novo dia é um fragmento
Uma recordação em movimento
Um Deus renovado com quem converso

Nele eu vivo, agitado e sereno
Sempre próximo de algo distante
Campo aberto, fechada fortaleza

Princípio e fim, etéreo e terreno
Corpo, alma, destino, ser pensante
Sopro do tempo na Natureza


Soares Teixeira, in "Pensar Poesia"