segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

"NO CABO DA ROCA" - Soares Teixeira



Diligentes
os dedos do olhar
compõem a trança de luz
que flutua no ar

Ondulando horizonte
sou o meu barco
nele levo a Europa
e ofereço-lhe o mar



Soares Teixeira – 02-01-2017
(© todos os direitos reservados)

sábado, 31 de dezembro de 2016

"CHAVE" - Soares Teixeira



Caminhamos
de mão dada com o tempo
continuamente
em viagem
e as pedras olham-nos
e os rios olham-nos
e as árvores olham-nos
e o mar
e o céu
e os pássaros também
até um dia
nada de nós restar
nem uma esperança que foi sol
nem uma praia onde nos vestíamos de horizonte
nem um nome que foi casca de fruto
nada
vivemos o ser sede na garganta dos dias
sede até ao tecto da pergunta e da onda
até um dia…
Continuaremos depois com os dedos entrelaçados
nos dedos de outra viagem?
a pergunta mastiga-se, lentamente
e a resposta está dentro de um copo de cristal
que cintila com um fulgor de princípio
no extenso instante de um pensamento
que agasalha a alma
como brilha a taça
no extremo do braço erguido em falésia
tão bela…
sobre a sua superfície deslizam galáxias
e ventos cósmicos cantam chamamentos
o sangue circula-nos no desejo
apetece beber
e bebemos
essa é a nossa forma de estar no mundo
ser nudez na origem aveludada da claridade
crescer na fechadura do mistério
tentar ser chave
e respirar a página por acontecer



Soares Teixeira – 31-12-2016
(© todos os direitos reservados)

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

"SOPRO DO TEMPO" - Soares Teixeira

Eis-me rodeado de Universo
Cérebro e coração do pensamento
Mistério que me trouxe a este momento
Até estas linhas, até este verso

No grande Cosmos onde estou imerso
Cada novo dia é um fragmento
Uma recordação em movimento
Um Deus renovado com quem converso

Nele eu vivo, agitado e sereno
Sempre próximo de algo distante
Campo aberto, fechada fortaleza

Princípio e fim, etéreo e terreno
Corpo, alma, destino, ser pensante
Sopro do tempo na Natureza


Soares Teixeira, in "Pensar Poesia"

sábado, 17 de dezembro de 2016

"FADO FALADO" - João Villaret



 


João Villaret a interpretar o "Fado Falado"


.Letra e música: Aníbal Nazaré; Nelson de Barros



Fado Triste
Fado negro das vielas
Onde a noite quando passa
Leva mais tempo a passar
Ouve-se a voz
Voz inspirada de uma raça
Que mundo em fora nos levou
Pelo azul do mar
Se o fado se canta e chora
Também se pode falar

Mãos doloridas na guitarra
que desgarra dor bizarra
Mãos insofridas, mãos plangentes
Mãos frementes e impacientes
Mãos desoladas e sombrias
Desgraçadas, doentias
Quando à traição, ciume e morte
E um coração a bater forte

Uma história bem singela
Bairro antigo, uma viela
Um marinheiro gingão
E a Emília cigarreira
Que ainda tinha mais virtude
Que a própria Rosa Maria
Em dia de procissão
Da Senhora da Saúde

Os beijos que ele lhe dava
Trazia-os ele de longe
Trazia-os ele do mar
Eram bravios e salgados
E ao regressar à tardinha
O mulherio tagarela
De todo o bairro de Alfama
Cochichava em segredinho
Que os sapatos dele e dela
Dormiam muito juntinhos
Debaixo da mesma cama

Pela janela da Emília
Entrava a lua
E a guitarra
À esquina de uma rua gemia,
Dolente a soluçar.
E lá em casa:

Mãos amorosas na guitarra
Que desgarra dor bizarra
Mãos frementes de desejo
Impacientes como um beijo
Mãos de fado, de pecado
A guitarra a afagar
Como um corpo de mulher
Para o despir e para o beijar

Mas um dia,
Mas um dia santo Deus, ele não veio
Ela espera olhando a lua, meu Deus
Que sofrer aquele
O luar bate nas casas
O luar bate na rua
Mas não marca a sombra dele
Procurou como doida
E ao voltar da esquina
Viu ele acompanhado
Com outra ao lado, de braço dado
Gingão, feliz, levião
Um ar fadista e bizarro
Um cravo atrás da orelha
E preso à boca vermelha
O que resta de um cigarro
Lume e cinza na viela,
Ela vê, que homem aquele
O lume no peito dela
A cinza no olhar dele

E o ciume chegou como lume
Queimou, o seu peito a sangrar
Foi como vento que veio
Labareda atear, a fogueira aumentar
Foi a visão infernal
A imagem do mal que no bairro surgiu
Foi o amor que jurou
Que jurou e mentiu
Correm vertigens num grito
Direito ou maldito que há-de perder
Puxa a navalha, canalha
Não há quem te valha
Tu tens de morrer
Há alarido na viela
Que mulher aquela
Que paixão a sua
E cai um corpo sangrando
Nas pedras da rua

Mãos carinhosas, generosas
Que não conhecem o rancor
Mãos que o fado compreendem
e entendem sua dor
Mãos que não mentem
Quando sentem
Outras mãos para acarinhar
Mãos que brigam, que castigam
Mas que sabem perdoar

E pouco a pouco o amor regressou
Como lume queimou
Essas bocas febris
Foi um amor que voltou
E a desgraça trocou
Para ser mais feliz
Foi uma luz renascida
Um sonho, uma vida
De novo a surgir
Foi um amor que voltou
Que voltou a sorrir

Há gargalhadas no ar
E o sol a vibrar
Tem gritos de cor
Há alegria na viela
E em cada janela
Renasce uma flor
Veio o perdão e depois
Felizes os dois
Lá vão lado a lado
E digam lá se pode ou não
Falar-se o fado.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

"SÓ O POETA" - Soares Teixeira



Só o poeta acorda as pedras das ruas
Que os vagabundos vestem ao cair da noite

Só o poeta inventa praças alegres
Nos terrenos baldios dos sonhos tristes

Só o poeta tem perguntas para os natais
Que cintilam indiferença diante do sofrimento

Só o poeta convida as aves para serem companhia
De quem tem de seu apenas dias estropiados

Só o poeta diz que as palavras têm dedos
Que tocam nos lábios de todos os olhares

Só o poeta



Soares Teixeira – 11-12-2016
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

DOIS TITÃS EM LISBOA



Sábado, dia 10 de Dezembro o lendário Charles Aznavour - 92 anos!! - com a sua inigualável voz e o seu tremendo charme levou ao rubro o Meo Arena, em Lisboa. Um espectáculo memorável!




Domingo, dia 11 de Dezembro o fabuloso Elton John apresentou-se no Meo Arena, em Lisboa. Tremendo! Esmagador! Electrificante! A casa ia vindo abaixo com a euforia do público.