segunda-feira, 18 de abril de 2016

"ILUSÃO" - Soares Teixeira



Ilusão?
é ser chão
e levar os dedos à boca
e sentir sol e luar
e orvalho e ar
e estender os braços
até tocar no voo dos pássaros
e estremecer o corpo de terra e rio
e crescer abraçado a uma árvore
e sonhar
ser fruto no céu
e ser esse sonho em arcos de gesto
e ser o fruto que se sonha
e ser o sonhado sonho
a beber o vinho de todas as danças
e a dançar o vinho de todas as festas

ilusão?
é construir viagem
desejo a desejo
pergunta a pergunta
e sem nunca terminar essa ponte
dar-lhe um nome
“Miragem”
e tirar-lhe uma fotografia
e guardá-la
no chão do peito
e sentir-lhe as cores
na solitária inauguração
de cada instante



Soares Teixeira – 18-04-2016
(© todos os direitos reservados)

domingo, 17 de abril de 2016

"ABRIL" - Soares Teixeira



Há pequenos duendes no ar
uns riem-se depressa 
outros devagar 
são sílabas a brincar

magia no jardim do azul
até as nuvens param
para observar
aquele encanto de crianças

é Abril!
e temos cravos debruçados do olhar
dêem-nos as mãos irmãs sílabas
é Abril! vamos dançar!



Soares Teixeira – 17-04-2016
(© todos os direitos reservados)

sexta-feira, 15 de abril de 2016

"PORTUGUÊS" - Soares Teixeira




Recomeçar
com o vento
ir com a luz
sobre a palma da mão
do mar

O meu destino?
navegar
ir na nervura do horizonte

Ir
respirar estrelas com o olhar
semear ilhas nos mapas
descobrir
inventar
ser o primeiro
ser maior
mais íntimo do azul
mais próximo do além
juntar continentes
dizer Portugal

Escrever saudade
na areia de uma praia distante
dar a conhecer ao mundo
a Humanidade
e voar
em suspiro profundo
depois de ser Sol
no corpo de outra mulher



Soares Teixeira – 15-04-2016
(© todos os direitos reservados)

quinta-feira, 14 de abril de 2016

"A ROSA BRANCA" - Soares Teixeira




A rosa branca
repousava entre os dedos
cruzados
assentes sobre o joelho direito
perna traçada
calça vincada
camisa aprumada
de manga curta
porque era verão

quando ela o viu
deteve-se
compreendeu e corou

com um sorriso
recordou:
“Um dia peço a uma rosa branca
para te pedir em casamento”

abraçaram-se
e só a rosa falou



Soares Teixeira – 14-04-2016
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 13 de abril de 2016

"MOMENTO" - Soares Teixeira



Entro numa página
suspensa no céu
onde está escrito um verso
e
com toda a minha alma
a cumprir silêncio
transformo-me noutro
noutro ainda
em tantos quantos descubro
nas páginas que se sucedem
e
na polpa de cada verso
na imensidão de cada página
vejo aceso um verbo
e
o verbo é ser

regresso
poiso na minha infância
tudo fica para trás
em frente
sobre uma mesa
os meus lápis de cor
e
uma folha em branco

espreito-me
de aqui para lá
de lá para aqui

fecho os olhos
sinto os lápis e a folha em branco
não sei por quanto tempo

um choro
faz com que as minhas pálpebras
se abram ao presente
observo uma criança ao colo da mãe

levo a chávena aos lábios
bebo um pouco de café
está frio
não dei pelo tempo passar

penso-me
sinto-me verso pesado
e
o verbo é ser



Soares Teixeira – 13-04-2016
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 12 de abril de 2016

"LEVE" - Soares Teixeira




O meu nome?
está escrito entre dois rios
a minha respiração?
está entre duas asas
os meus passos?
estão entre duas palavras

há longos lenços de fogo
em volta dos pescoços
das deusas
que me estendem os braços
e voam, esses lenços
voam… leves

  fantásticos cascos de ouro
nas patas velozes
dos cavalos
que conduzem a minha quadriga
e voam, esses cascos
voam… leves

há mar e música
no abraço apertado
do horizonte
que ao ouvido me pede
para voar
voar… em leveza

por isso
é entre dois rios
é entre duas asas
é entre duas palavras
que sou
que respiro
e que vou



Soares Teixeira – 12-04-2016
(© todos os direitos reservados)