sábado, 29 de agosto de 2015

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

"PARA LÁ DA FORMA" - Soares Teixeira




É humano,
não entregar o olhar à luz das flores?
não encostar o ouvido ao peito dos astros?
não beber das águas que escorrem do canto dos pássaros?
não prolongar os braços até ao sol?
É humano,
não voar?
não levar nas asas os cânticos das montanhas
e no bico uma gota de orvalho?

Quem sabe
ser
para lá da forma
renascer
da linguagem do tempo
segurar
os braços dos espaços
sabe
navegar para além dos mapas
e ascender aos rios onde o espírito é peixe



Soares Teixeira – 28-08-2015
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 25 de agosto de 2015

"INFÂNCIA" - Soares Teixeira




Vestem-se
com o ser pássaro
na mãe das madrugadas

estendem-se
com o ser Sol
no início da liberdade

são as crianças
a brotar de gestos
que nem os astros sabem explicar



Soares Teixeira – 25-08-2015
(© todos os direitos reservados)

domingo, 23 de agosto de 2015

"E ASSIM VOU" - Soares Teixeira




O horizonte aproxima-se da sede
e eu bebo
das fontes da ilha
que o meu gesto procura
e assim vou
estando onde não estou
habitando o que sou
uma ave
a sangrar espaços por desvendar


Soares Teixeira – 23-08-2015
(© todos os direitos reservados)

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

"LUZ HABITÁVEL" - Soares Teixeira




O mar mergulha no olhar
o céu também
aquela gaivota que ali vai
em sossego de azul aberto
está no mundo como uma gaivota
mas dentro de mim é um peixe
e o sol um grande coral
o mais próximo de todos os corais
que habitam o céu

as ondas procuram a unidade
na sua pele cintila luz habitável
e na imensa polpa líquida
voam as asas de um princípio
sempre cumprido
sempre por cumprir

eu sou aquele
que nasce do impossível
por isso em mim
a sempre inaugural sublevação
das praias do meu sangue



Soares Teixeira – 18-08-2015
(© todos os direitos reservados)


domingo, 2 de agosto de 2015

"ACREDITAR" - Soares Teixeira




Hoje
entrei dentro da concha
de um búzio
que apanhei na praia
depois
sentado na areia
escutei a minha voz
numa memória
que fui construindo
ao som do mar
Quando dei comigo
estava no pôr do sol
que era belo
como sempre
mas…
diferente
havia nele algo profundamente
longínquo
senti-lhe um respirar antigo
perguntei-lhe se me estava a pedir
para acreditar nas lendas e nos mitos
     silêncio
enquanto aguardava a resposta
a espuma
que sabia que eu não estava a fingir
chiava no chão
num branco regresso do trabalho
Uma gaivota fez-se dedos
e rodou-me o queixo
ao meu lado um barco Fenício
acabado de chegar
sim, era Fenício, tenho a certeza
porquê?
porque mo disse o único marinheiro
da embarcação
disse-mo olhos nos olhos
e eu acreditei
- e como não acreditar,
se quem estava diante de mim
com corpo de azul a começar
e alma de ilhas a voar
era eu?!
eu!
a ver-me …
homem búzio
sentado à beira mar



Soares Teixeira – 02-08-2015
(© todos os direitos reservados)