terça-feira, 12 de maio de 2015

"ROMANCE" - Soares Teixeira





Olharam-se

e gota a gota
deixaram-se sorrir
um para o outro

e quiseram ser

dois sóis
a deslizar
em duas folhas de árvore
na verdade duas gotas de orvalho
dois rios
a correr
de dois inícios
na verdade dois sóis com sede

depois

quando o poente era já
asa distante
eles ainda manhã na pele
e quando a lua tocou
no olhar das águas
eles ainda dentro do beijo

foram sendo praia



Soares Teixeira – 12-05-2015
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 11 de maio de 2015

"RECEITAS" - Soares Teixeira





Quando um poema
sabe a chá requentado
é bom
beber em seguida
por um cálice de água
toda a luz fresca
de uma flor a sorrir ao céu
ajuda a digestão

convém também
para sossego do estômago
andar acompanhado
de uns pastelinhos
feitos de canto de pássaro
não vá a fome apertar
no meio de alguma avenida
de palavreado



Soares Teixeira – 11-05-2015
(© todos os direitos reservados)

domingo, 10 de maio de 2015

"O LUGAR" - Soares Teixeira





O lugar
onde a água renasce
e o fogo cria novos astros
não é o cais do peito
onde o veleiro permanece
atracado
conformado
não
esse lugar
é o caminho por percorrer
ainda que o mar
seja de lágrimas
esse lugar
é o desassossego
a inquietação
o quebrar amarras
num claro gesto de proa
intacta na vontade
em receber
a hora
dos ventos cintilantes
e ser
identidade redescoberta
em viagem
de libertação



Soares Teixeira – 10-05-2015
(© todos os direitos reservados)

quinta-feira, 7 de maio de 2015

"SEMPRE PRAIA" - Soares Teixeira





Dentro do poeta
o poema
nasce
e o seu corpo nu
convida os espaços

nesses espaços
o poeta
renasce
onda em oceano
viagem sem fim

voar
procurar o extremo
de um início azul
sempre praia
em mim



Soares Teixeira – 07-05-2015
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 5 de maio de 2015

"DESCOBERTA" - Soares Teixeira





No estuário do olhar
o mar
inexplorado ondular de mitos
longo e profundo
agudo enigma
a incendiar o medo
mas também talento
a crescer da chama
em coluna de vontade
e as longas pálpebras do Tejo
a voar do rosto liquefeito
da saudade
alongando o rio inaugural
desde a retina de Portugal
até à intensa solenidade
de outros lugares
também eles
respiração do mundo

foi assim
que a humanidade descobriu
que era um navio



Soares Teixeira – 05-05-2015
(© todos os direitos reservados)