quinta-feira, 23 de abril de 2015

"ACONTEÇA O QUE ACONTECER" - Soares Teixeira





Gota a gota
os dias caem
nos degraus do tempo

fica um rasto
de sangue
de ilusão

haverá uma barca
à espera da hora
que pousa nas pálpebras?

E se houver?
acontecerá viagem
num segredo primordial?

E se não houver?
extingue-se o extinto o vulcão
no definhar da memória?

Aconteça o que acontecer
não existirão bandos de beijos
a voar no amanhecer



Soares Teixeira – 23-04-2015
(© todos os direitos reservados)

quarta-feira, 22 de abril de 2015

"UMA FLOR NA LAPELA" - Soares Teixeira





Dizer um poema
é ir ao seu encontro
colocar-lhe uma flor na lapela
e depois dizer
“vem
entra na minha janela
alonga-te nas minhas ruas
e nos meus segredos
caminha no chão que encontrares
se quiseres dançar dança
se quiseres cantar canta
se quiseres gritar grita
talvez me encontres num instante
em que me apeteça fazer a mesma coisa
ou talvez não
podes demorar a fazer sentido no meu sentir
e eu ter dificuldade em me misturar
com as tuas palavras
ou podemos ser imediata posse mútua”
Às vezes o poema incendeia as veias
outras vezes é uma nuvem triste
com gente dentro a chorar por dentro
o poeta
ah sim quantas vezes
tatuado a exílio
ilha a forçar a porta do sol
e de página sonâmbula no olhar
o poeta chora a força que tem de fazer
para sustentar o telhado do ser
poeta
mereces que te digam
“vem
entra na minha janela
alonga-te naquilo que encontrares
queres passear apenas? Passeia
queres apascentar um rebanho? Seja
queres conversar? Sim, sejamos búzios
se quiseres podes descansar
senta-te um pouco na natureza do meu mundo
estender-te-ei um pano branco
tecido com as linhas da minha condição
dar-te-ei a beber um pouco da minha alma”
Creio que o mar habita todas as metáforas
e a vida por ser mortífera tem saltos altos
e as casas são a efémera polinização dos seus espaços
e tudo acaba por ser geografia em processo de descoberta
por isso
não aos poemas parados no silêncio
não aos poetas longe da mesa das suas palavras
“vem poema
vem
porque eu vou ao teu encontro
há em mim um rio falante
e nele uma flor
para te colocar na lapela
vem poema
vem
entra na minha janela”




Soares Teixeira – 22-04-2015
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 21 de abril de 2015

"INICIA-TE" - Soares Teixeira





Guardas-me
na visão onde me acolhes

eu     
sopro
que atravessou a luz
para habitar o caminho
da palavra
com que hesitas os lábios
porquê?
assim fico imóvel
como uma coluna de ar
vamos
sai da boca
movimenta-te no sorriso
e deixa adivinhar as ancas
que queres fazer voar
inicia-te na sílaba
tu     
coragem

nós     
volúpia
infinito inaugural




Soares Teixeira – 22-04-2015
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 20 de abril de 2015

"NÓS VAMOS" - Soares Teixeira





Corpo
escreve-se com mãos
desejo
escreve-se com luz
o resto
é escrito pelo instinto

e nenhuma sombra no fogo
de vivermos no mar
a navegação do beijo

sermos vento que se demora
nas águas do nosso caminho
sermos assinatura que prolonga
na página da nossa aventura
isso sim importa
e nada mais
tudo o resto é cais
dentro da voz das amarras

que fique

nós vamos
e nenhum sono
na urgência de sermos além



Soares Teixeira – 20-04-2015
(© todos os direitos reservados)

sábado, 18 de abril de 2015

"PEQUENA BRINCADEIRA, OU TALVEZ NÃO" - Soares Teixeira





a caminho de outro caminho
desassossego outro desassossego
começo outro começo



Soares Teixeira – 18-04-2015
(© todos os direitos reservados)