quarta-feira, 15 de abril de 2015

"O SALTO" - Soares Teixeira





O ângulo
com que te demoraste
a ser desejo
transformou o momento
em linha recta

o lince correu no sangue
e saltou

sobre estradas
de conversa de circunstância
e gestos de arbustos secretos
saltei
e agora estou aqui
volúpia a nascer do ar
incandescente animal
sobre o mamilo
do sermos luz



Soares Teixeira – 15-04-2015
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 14 de abril de 2015

"UTOPIA" - Soares Teixeira



Thomas Morus e gravura da ilha de Utopia

Às vezes faz falta
estar
no não-lugar do ser
andar com passos de pausa
por aquela região
onde nas árvores
as folhas
conversam com as raízes
e nas casas
as janelas
conversam com os caminhos
às vezes faz falta
atravessar a ponte
para a utopia
ajuda
o dia a dia



Soares Teixeira – 14-04-2015
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 13 de abril de 2015

"BOM DIA" - Soares Teixeira





É manhã
bom dia meu horizonte
esta ilha que levo no bico
deixo-a cair
nos lábios com que sorris
tu
ficas um mar mais exuberante
e eu
mais feliz
é bom
o beijo da geografia



Soares Teixeira – 13-04-2015
(© todos os direitos reservados)

domingo, 12 de abril de 2015

"GUARDA-ROUPA" - Soares Teixeira





Abro o guarda-roupa do peito
e ponho-me a olhar para o que me apetece vestir
talvez uma altitude de montanha
envolta por nuvens adormecidas
talvez a minúcia de um insecto num árvore
em tons de castanho e verde
talvez este bulício de cidade cosmopolita
numa mistura de cores em movimento
deixa-me ver bem...
tenho aqui uma lentidão de folha a cair
de uma janela num quinto andar
(leva um poema escrito)
tenho também um olhar de ondas
a espreitar as praias
um raio de luz a brincar
com as pétalas de um malmequer
um caminho de pedras milenares
a segredarem os segredos de passos de gente
que não ficou para a história
e de patas de cavalos que transportaram gente
que fez história e tem morada nas enciclopédias
uma clareira de silêncio a cujo centro
chegam e partem constantemente
duendes musicais que festejam coisas
que só eles sabem tocando instrumentos únicos
que vão nascendo nas suas pequenas mãos
ah talvez este promontório sempre recém-nascido
do templo que sobre a sua extremidade se ergue
numa ousadia de pedra quase aérea
e este espaço que uma manada de búfalos reclama?
ou ainda esta cortesia de flor que me sorri?
não me parece mal
talvez a cúpula atravessada pelos quadris de um desejo
também há aqui um relâmpago errante
que me parece interessante
ainda a ondulante viagem dos seres marinhos
ou um cacho de uvas oferecido pela distância
vou passando uma a uma as indumentárias
de que me poderia vestir
às vezes detenho-me numa delas
hesitante
e depois continuo
em busca daquilo que me parece mais adequado
o facto é que estou indeciso
de repente ao afastar o cabide onde estava um aroma silvestre
um pássaro fulgurante salta vertiginoso do guarda-roupa
veste-se com a minha indecisão e em certeiro alvoroço
leva-me para o íntimo azul da sua única certeza
a liberdade



Soares Teixeira – 12-04-2015
(© todos os direitos reservados)

"BEBER" - Soares Teixeira





Dizes-me que beba
onde a palavra é água
e eu bebo-te em beijos

corpo são gotas de chuva
que rolam na minha língua vegetal
até à raiz da minha luz animal

corpo é a palavra viva
onde cometas começam
a insondável viagem

beber-te é o que te digo
como onda a dizer praia
e pássaro a dizer paisagem



Soares Teixeira – 11-04-2015
(© todos os direitos reservados)

sexta-feira, 10 de abril de 2015

"PORTAS DO SOL", Santarém




Foto de minha autoria tirada das "Portas do Sol", em Santarém. 04-Abril-2015