Saber onde está
a matéria-prima do poema?
se na nervura do quotidiano?
se na pulsação da metafísica?
Quero lá saber!
Que se dane!
chove
é Abril e parece Dezembro
há dois dias o sol era mel
a matéria-prima do poema
está
numa chávena de café
a rodar em volta da colher imóvel
está
nas árvores ao contrário
e com raízes nas nuvens
está
nos intermináveis testículos de touros
enfiados em buracos de planetas distantes
está
na costela lilás de uma múmia egípcia
ou azteca (tanto faz)
está
por aí no avesso do contrário
e no contrário do avesso
onde ela não está
é nos impropérios que lanço ao tempo
impropérios sim
e porque não?
sou matéria-prima de mim
e em estado de danação
com esta meteorologia que nos é oferecida
por deuses com neurastenia
Soares Teixeira – 08-04-2015
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