terça-feira, 7 de abril de 2015

"ASSIM" - Soares Teixeira





Porque havia uma sede
de clarabóias ultrapassadas
fomos um vento vertical
e para trás deixámos
tudo o que não era necessário
ao beijo a florir no espaço

assim acendemos a carne
até ao relâmpago

assim nascemos dos nossos ventres
e chegámos ao absoluto



Soares Teixeira – 07-04-2015
(© todos os direitos reservados)

sexta-feira, 3 de abril de 2015

"JULGAMENTO" - Soares Teixeira



(Foto da NASA : http://visibleearth.nasa.gov/view.php?id=57723)


Eis o Homem
está aqui para ser julgado
ei-lo
vestido com a pele
do monstro em que se tornou
coroado de lâminas incandescentes
que se tocam no centro do cérebro
onde o milagre
entra na forja da ambição
para ser transformado
naquilo que lhe permita ir mais longe
no egoísmo
na guerra
na traição
na destruição
da Terra
Falai rios, falai oceanos, falai peixes,
falai flores, falai árvores, falai pássaros,
falai!
que tendes a apresentar em sua defesa?

Chora a Obra
Sobre as florestas derrubadas
dói o silêncio das aves
dói a dor das madrugadas
Nos rios nauseabundos
dói a ausência dos peixes
dói a dor dos leitos moribundos
As feridas do milagre não param de sangrar
dói ver o corpo rasgado
dói a dor de olhar

Falai!
falai espaços, falai distâncias falai horizontes
falai pedras, falai vales, falai montanhas
falai de dentro das vossas entranhas

Seja
cumpra-se
e não é necessário que os ventos os levem
os Homens irão pelo seu próprio pé
sozinhos
misturados com a poeira dos seus caminhos



Soares Teixeira – 03-04-2015
(© todos os direitos reservados)

terça-feira, 31 de março de 2015

"JARDIM DO PRODÍGIO" - Soares Teixeira





Demorar a rosa
no silêncio do corpo
que em rio
a recebe
deslizar com a flor
ser cisne
no fresco incêndio
da pele
ir
do alvoroço
ao beijo leve
e de novo
à ardente altitude
da cascata
gravitar dentro da posse
que é possuir
e entregar

Tudo o resto
árido
só nós
jardim do prodígio
a beber feliz
a chuva do amor



Soares Teixeira – 31-03-2015
(© todos os direitos reservados)

segunda-feira, 30 de março de 2015

"PAISAGEM MARÍTIMA" - Soares Teixeira





No mar
o ar
respira fundo
o horizonte
tem sede
e bebe distância
uma ave
inaugura o instante
e vai
o resto
é a forma
que o Sol
dá às coisas
por si inventadas
e que só ele conhece

as ondas nadam
como lhes apetece
as suas costas tocam
no tempo sem tempo
da noite e do dia

um poeta
deixa-se acontecer
nos ventos de ninguém



Soares Teixeira – 30-03-2015
(© todos os direitos reservados)