Porque na boca
tinham o abandono de navios sem destino rolaram em framboesas frescas em óleos
de rosas antigas em capitéis de colunas de luz em violentas tempestades em
ebriedade de magma em silêncios de mistérios marinhos e neles tudo o que ainda
não era passou a ser primeira página de um caminho novo onde trombetas de oiro
e vento e galos incandescentes e espaços com odor a amêndoas saudaram a argila
nova com que moldavam os seus corpos de árvores a crescer na pedra transparente
que é unidade e que oculta a nascente da magnífica claridade sem dono sem filtro na
retina sem sombra a ferir as aves brancas que habitam nos tímpanos sem correntes a
prender os tornozelos à voz rouca de ciprestes a gemer na névoa
sim amaram-se
nenhum peixe
lhes disse que não era chegado o momento nenhuma vértebra de distância lhes
disse que não podiam ir respirar a apoteose da viagem nenhuma rocha abriu os
lábios para lhes dizer que o tempo do alvoroço era apenas para os pássaros
apenas uma esteira lhes falou e disse-lhes para se deitarem sobre a sua matéria
primaveril e serem atitude altitude amplitude infinito grito silvestre agreste
lento meigo
sim amaram-se
e foi assim que
nasceram as paisagens onde os astros voavam com as aves
Soares Teixeira – 13-09-2014
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