"COMO UMA ILHA FATAL" - Soares Teixeira

(Imagem retirada da net: http://www.portalmidia.net/por-que-os-homens-olham-tanto-para-o-bumbum-das-mulheres/)

Como uma ilha fatal

fêmea e firme

vagarosamente caminhas

com esse teu modo

de ofereceres um copo de água

àqueles a quem despertas sede

Escorre-te pelos ombros

toda a música do amanhecer

sobe-te pelas pernas

o silencioso sorriso da terra

para as ancas convergem

princípios e serpentes de fogo

Liquefazem-se as esplanadas e as ruas

e todos os gatos se transformam

em peixes que seguem

o sedutor ondular

das translúcidas e longas barbatanas

que te nascem do movimento

Soares Teixeira – 10-03-2013 

(© todos os direitos reservados)

Gustavo Dudamel

Elena Gea, Flamenco com cavalos

 

 

Fantástico momento de Flamenco e Arte Equestre. Rigor e graciosidade na bailarina e no cavalo.

INGRAVIDEZ, Aurora Cañero

Interessantíssima escultura de Aurora Cañero. A imagem da fertilidade como eixo, da mulher que se transcende e se eleva. Moderno e ancestral.

"NOIVOS" - Soares Teixeira

                                                     (Fotografia de Francois Jacquemin)



Faziam-nos sentir
as últimas estacas
dum porto palafítico
há muito abandonado

cansados
não de si mesmos
mas de serem olhados
como sobra dos dias
resto de tudo
adiado alimento de corvos
ele e ela
estenderam os braços enrugados
até à linha do horizonte
pousaram as mãos trémulas
uma sobre a outra
e aceitando a luz do sol
juraram caminhar juntos
à descoberta
das novas acácias dos instantes

quando lhes perguntaram
a razão de se quererem unir
os tais velhos
com a certeza
de jovens pássaros
apenas responderam

porque sim


Soares Teixeira – 25-02-2013
(© todos os direitos reservados)

BEETHOVEN - Rondo e capriccio

Piano

Evgeny Kyssin

 

 

"BEETHOVEN" - Soares Teixeira

O vento inclina a cabeça
para o antiquíssimo touro
que fecunda a terra

rumor de folhagem
no corpo do instante
a claridade cresce na manhã
o sol ergue os braços
de todas as coisas
libertam-se
pássaros de inquietação
de súbito um silêncio
quase violento

o homem surge
no olhar o seu ofício
caminha frontal
como uma falésia
a música nasce-lhe dos passos
o touro chama os mitos
a terra chama os homens
o sol chama os deuses
chegou aquele
a quem se tem de se prestar culto
Beethoven


Soares Teixeira – 23-02-2013
(© todos os direitos reservados)