terça-feira, 4 de setembro de 2012

"INÍCIO" - Soares Teixeira





De todas as direcções do universo
surgem olhos
confirmando a nascente do poema
fico quieto, em silêncio
observando
o meu corpo apenas existe
dentro da respiração
o instante
está num casulo

belo
simples, solene e sagrado
o sol nasce
alonga-se o meu espírito
saúdo o milagre
visto as suas asas
e em mim
sou o senhor
de tudo o que quero amar

                                              Soares Teixeira

sábado, 1 de setembro de 2012

"VERDE QUERO-TE VERDE" - Soares Teixeira




Verde quero-te verde
sagrada floresta
delírio de gestos
que transbordam
do meu abraço
em balanço de êxtase

Verde quero-te verde
sublime milagre
que se ergue da terra
e em beijo mergulha
nos céus
esfomeados de paraíso

Verde quero-te verde
templo de prodígio
aberto à oração
dos que te amando
crescem
na distância de si mesmos

Verde quero-te verde



                                                  Soares Teixeira - 24/08/2012

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

"SANTA MARIA MANUELA" - Soares Teixeira




Santa Maria Manuela
é uma alma em corpo de veleiro

Branco
do cais de cada instante
saía para o templo azul
erguido na pétala da distância
Santa Maria Manuela
o bacalhoeiro
Belo e de proa triunfante
segredava ao mar
pela voz das velas
as viagens do pensamento
dos que nele navegavam
vestidos de vastidão e vento

Triste
um dia parou
à grande porta do tempo
como um fim de tarde sem júbilo
Santa Maria Manuela
quase grito derradeiro
Ferido e a sangrar
era um estranho animal
que em surdina chamava
pelo azul dos sonhos
a cintilar
no rosto de Portugal

Abertas
como grandes asas de vontade
mãos em manhã de aventura
lançaram-se firmes
para salvar a taça tombada
no altar do destino
e cada homem era um menino
no assombro de ser mais
que o brilho de um sonho
entre a folhagem de um jardim
cada homem era o azul
de que o horizonte se alimenta

E aconteceu
o futuro renasceu
branco

Santa Maria Manuela
alma em corpo inteiro
Santa Maria Manuela
o veleiro



Soares Teixeira / 04-08-2012


sábado, 30 de junho de 2012

"OBRIGADO, JOAQUIM EVÓNIO" - Soares Teixeira




Obrigado
Joaquim Evónio
seiva de sol generoso
a gotejar do amanhecer
poema em praça pública
rede de pescador
em mares de pontes por nascer

Obrigado
pela palavra de cabeleira revolta
pelo gesto largo
a continuar a barba branca
pelo olhar frontal e longo
em espuma de onda
ávida de horizonte

Obrigado
por teres sido tambor a abrir fendas
na arrumação dos espaços
por teres sido morteiro de luz
com coragem de pomba
por teres sido alicerce de ti mesmo
e azul a sonhar varandas de amizade

Adeus



Soares Teixeira – 29-06-2012

quarta-feira, 20 de junho de 2012

"ESCOLA DE SAGRES" - Soares Teixeira



Em Sagres o mito e o mistério
estendem os dedos ao mar
e o mar que se desenrola
o mar que ruge a assola
o mar de luz e breu
espelho de dupla face
onde os abismos se reflectem
e se unem na superfície do eu
o mar
abre a garganta em ondas
e diz
- Venham a grande escola sou eu

 
Soares Teixeira

"TRÊS QUADRAS PARA ANTÓNIO ALEIXO" - Soares Teixeira



Chamas-te António Aleixo
és o príncipe do povo
em ti há o sangue novo
de um grito que é nosso eixo

Tu que tinhas vistas largas
e grande sabedoria
dás-nos nas horas amargas
lições de filosofia

Tomara muito doutor
alcançar o teu saber
tomara muito senhor
ter o que soubeste ser


Soares Teixeira

"O SOL CUMPRE-SE NO OLHAR DO TOURO" - Soares Teixeira





O sol cumpre-se no olhar do touro
os cavalos pastam
os pássaros são o início doutro horizonte
o de um tempo antigo
em que os templos no alto dos promontórios
eram sagrados e neles se veneravam deuses
que vigiavam o amanhecer
O mar é a medida do excesso
e bate nas rochas
abrindo-lhes o peito
até à recordação dos primeiros dias
O vento vai vadiando
a sua grande cabeça a crescer de orgulho
O horizonte prende-se
em todas as saliências do olhar
A grande aventura do mundo
percorre o corpo de uma flor
na beira do caminho
A procissão passava tecendo cânticos
um velho humilde descansava
e com olhar simples observava a flor
e ao sorrir para aquela réplica de universo
expandia-se fantástico em grandeza

desse mundo antigo
o olhar do sábio brilha na flor de agora
à sombra da ruína sagrada

O sol faz soar os seus tambores


 
Soares Teixeira